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Por Redação O Sul | 23 de março de 2022
Um ataque balístico realizado na última sexta-feira (18) foi diferente de todos os demais ocorridos nas três semanas anteriores da guerra da Rússia contra a Ucrânia: o alvo era um depósito de armamentos e munição no lugarejo de Deliatyn, a 100 quilômetros da fronteira ucraniana com a Romênia.
A ofensiva se destacou não só porque as instalações foram destruídas, mas por as Forças Armadas russas terem usado um míssil hipersônico, pela primeira vez no conflito. Após anúncio do Ministério da Defesa russo, o governo dos Estados Unidos confirmou o emprego do míssil do tipo por Moscou. “É quase impossível detê-lo”, declarou o presidente americano, Joe Biden, na última segunda-feira (21).
“Invencíveis”, foi como o presidente Vladimir Putin louvou as novas armas em 2018, ao apresentar o arsenal nacional. Pode ter sido uma descrição exagerada, com fins de propaganda, mas contém um quê de verdade: mísseis hipersônicos diferem das armas balísticas convencionais de maneiras que os tornam mais difíceis de ser identificados e interceptados pelos sistemas de defesa. É uma questão de velocidade e altitude.
Alta velocidade, baixa altitude
Os mísseis hipersônicos alcançam de Mach 5 a Mach 10 – ou seja, voam de cinco a dez vezes mais rápido do que o som. O tipo usado pela Rússia para destruir o depósito de Deliatyn é um “Kinzhal” (“adaga” em russo), de oito metros de comprimento.
Segundo algumas fontes, esse foguete alcança 6 mil quilômetros por hora, o que seria Mach 5, outros lhe atribuem velocidade Mach 9 ou até Mach 10. Seja como for, é rápido. Tanto, que “a pressão do ar na frente da arma forma uma nuvem de plasma que absorve ondas de rádio”, explicam os peritos armamentistas do website americano Military.com. Isso dificulta muito a detecção dos “Kinzhal” e outras armas hipersônicas por sistemas de radar.
O segundo motivo para a baixa detectabilidade, é que eles voam muito mais baixo do que os mísseis balísticos convencionais, no que se denomina uma “trajetória balística de baixa atmosfera”. Isso implica que, quando um sistema de defesa baseado em radar os localiza, eles já estão tão perto do alvo que em muitos casos não é mais possível interceptá-los.
Para completar, são capazes de mudar de direção em pleno voo.
Capitais europeias
O míssil contra o depósito em Deliatyn foi lançado do ar, provavelmente de um avião MiG-31. Porém armas hipersônicas podem ser também disparadas a partir de navios e submarinos, e estão aptas a portar ogivas nucleares.
Os “Kinzhal” atingem alvos a até 2 mil quilômetros de distância, enquanto outros armamentos semelhantes alcançam cerca de mil quilômetros. Caso estacionados no exclave russo de Kaliningrado, no Mar Báltico, por exemplo, eles teriam em seu raio de alcance diversas capitais europeias. Berlim fica a menos de 600 quilômetros.
Certos analistas sustentam, contudo, que o ataque a Deliatyn foi um evento isolado. Apesar das vantagens dos mísseis hipersônicos perante os convencionais, a Rússia não empregará sua arma “invencível” indiscriminadamente na guerra contra a Ucrânia, afirmou à emissora BBC Dominika Kunertova, do Centro de Estudos de Segurança, em Zurique. Até porque o país “não dispõe de um grande número desses mísseis”.