Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de julho de 2023
A eterna discussão sobre a cultura das gorjetas nos Estados Unidos voltou ao noticiário após funcionários da primeira loja sindicalizada da Apple no país defenderem receber gratificação de clientes. O anúncio levantou intensos debates sobre a prática, onde segue muito arraigada. Muitas pessoas acreditam que a cultura das gorjetas está saindo do controle.
Expressões como “dar gorjeta por culpa”, “cansaço das gorjetas”, “arrepio das gorjetas” e “inflação das gorjetas” já se tornaram frequentes entre os americanos. Essa prática polêmica se espalhou por todo o mundo, mas nem todos os países a adotam com o mesmo vigor que os Estados Unidos.
O costume de dar gorjetas gerou recentemente discussões na Espanha, enquanto, na França, service compris (“serviço incluso”) significa que a gorjeta já está embutida na conta. Em outros lugares, particularmente no leste asiático, a inexistência da tradição de gorjetas é motivo de orgulho.
Para exemplificar o velho dilema de dar ou não gorjeta, aqui estão alguns lugares com suas próprias características. Eles foram selecionados com base na cultura de aprovação ou não desta prática e mostram como o comportamento em relação à gorjeta reflete aspectos mais abrangentes da sociedade de cada país.
Japão
A sabedoria popular costuma dizer que o Japão é uma espécie de paraíso da limpeza, onde não existe lixo. Lá, a imperfeição (wabi-sabi) é respeitada e a consciência social valorizada como uma forma de arte (não coma enquanto estiver andando; fique em silêncio no transporte público; não aponte com as mãos, nem com os hashis; não assoe o nariz em público – a lista é quase interminável).
No Japão, as gorjetas também não são apenas incomuns. Elas são consideradas desagradáveis e constrangedoras. E essa cultura japonesa de prestação de serviços sem gorjetas precisa realmente ser comunicada para o visitante estrangeiro com uma advertência: se você der gorjeta, irá ofender alguém.
“Mesmo quando os visitantes são informados que no Japão não se dá gorjetas, algumas pessoas ainda ficam dispostas a demonstrar seu reconhecimento com dinheiro, mas não é assim que funciona”, afirma James Mundy, da operadora de turismo britânica InsideJapan Tours.
“É comum ver as pessoas deixarem dinheiro para os garçons no restaurante e depois serem seguidas na rua e receberem seu dinheiro de volta”.
“Muitos não conseguem entender que as pessoas fazem seu trabalho com orgulho e que [dizer] oishikatta (‘estava delicioso’) ou gochiso sama (‘obrigado por preparar a refeição’) será muito bem aceito. O dinheiro nem sempre traz diálogo.”
A repulsa japonesa às gorjetas é perceptível. O shokunin kishitsu – algo como “espírito de artesão” – está infiltrado em muitos aspectos da vida japonesa. É uma filosofia aprimorada por muitas pessoas nos setores de atendimento aos turistas, como recepcionistas de hotéis até vendedores e chefs de sushi.
Egito
Um costume profundamente arraigado no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia é o conceito de baksheesh, que é uma gorjeta ou esmola por caridade.
Ela pode ser solicitada abertamente por um motorista de táxi ou guia turístico, ou sugestivamente sussurrada em um bazar no canto da rua.
Mas as duas formas têm o mesmo significado: o que está sendo pedido é um presente ou uma pequena gorjeta, independentemente do serviço oferecido.
Se interpretado erroneamente, o baksheesh pode ser traduzido como um pedido de esmola.
Mas dar esmolas para os pobres é um dos pilares do islamismo. Compreender este ponto irá aprofundar o conhecimento daquela parte do mundo pelo visitante. E o benfeitor supostamente se tornará uma pessoa mais sagrada com esta ação.
No Egito, essas gratificações são comuns para os funcionários de hotéis e restaurantes, motoristas de táxi e guias turísticos, bem como para os porteiros, funcionários que cuidam dos banheiros, seguranças e vendedores de lojas.
Uma análise mais profunda do baksheesh também revela que o costume é parte de um sistema informal de pagamento adiantado.
Os guias turísticos e concierges de hotéis do Cairo até Assuã podem fornecer tratamento preferencial, garantir serviço de primeira qualidade e fazer favores se receberem gorjetas antecipadamente.
Dólares americanos ou libras egípcias são bem-vindos: US$ 1-2 (cerca de R$ 5-10) são suficientes para ser bem recebido com um sorriso.
Em circunstâncias como estas, não é incomum no Egito conseguir milagrosamente a chave de um templo trancado no Vale dos Reis ou fazer com que um banheiro inacessível em um museu seja subitamente reaberto para os visitantes.
E os turistas não irão encontrar essa recomendação nos folhetos turísticos.
China
Mesmo nas mais modernas metrópoles da China, como Pequim e Xangai, tradição e superstição ainda têm forte influência na sociedade.
Na China, as pessoas não esperam receber gratificações.
E, embora possa parecer difícil de acreditar nisso em um país obcecado pelos avanços tecnológicos e pelo mundo do futuro, as gorjetas já foram proibidas por no passado.
Um dos mandamentos da China é que todas as pessoas são iguais e nenhuma é servidora de outra. Insinuar superioridade sobre outra pessoa é um tabu há muito tempo.
E, embora o gigante asiático seja cada vez mais um país de grandes hotéis e enormes restaurantes, as gorjetas continuam a ser malvistas, algumas vezes até interpretadas como subornos, principalmente em cidades menores e que recebem menos visitantes. As informações são da BBC News.