Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de março de 2023
Um dia depois de o Banco Central (BC) manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e adotar um tom mais duro do que o esperado em seu comunicado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu e escalou o tom de críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. O ruído político e o cenário traçado pelo BC tiveram impacto no mercado.
Na quinta (23), a Bolsa encerrou o pregão em baixa de 2,29%, aos 97.926 pontos. Foi o menor patamar de fechamento em oito meses, desde 18 de julho. Já o dólar subiu 1%, a R$ 5,28. Com o quadro pós-Copom, a expectativa de um corte na Selic ainda no primeiro semestre perdeu força, e boa parte do mercado prevê redução apenas mais perto do fim do ano.
“Quem tem que cuidar do Campos Neto é o Senado que o indicou. Ele não foi eleito pelo povo, não foi indicado pelo presidente da República. Eles paguem o preço pelo que estão fazendo. A História julgará cada um de nós”, afirmou Lula.
O presidente já vinha fazendo críticas à atuação do BC e ontem afirmou que Campos Neto não cumpre a lei de autonomia do BC. Nos últimos dias, integrantes do governo fizeram uma verdadeira ofensiva em defesa da queda dos juros.
Embora houvesse consenso em torno da manutenção da taxa na reunião de quarta-feira, havia a expectativa no governo e em parte do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deixaria a porta aberta para reduções na taxa adiante. Isso não ocorreu.
Ruído político
Na avaliação de analistas, as declarações de Lula e de outros integrantes do governo aumentam o ruído e afastam a possibilidade de corte de juros.
“Deixam o cenário mais difícil. Parece que o governo quer deixar ancorado ao Banco Central o desempenho ruim da atividade econômica ao longo do ano”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O comunicado, porém, destacou a importância de voltar a ter controle sobre as expectativas de inflação. Para este ano, elas estão em 5,95%, acima do teto da meta. Para 2024, estão em 4,11%, ainda dentro da margem de tolerância, mas acima do centro da meta. O comunicado deixa claro que se o BC julgar necessário, não hesitará em elevar os juros para conter a inflação.
O quadro traçado levou o mercado a um correção de rota. Antes da reunião, os juros futuros vinham sendo revistos para baixo com a perspectiva de um corte na Selic em meados do ano. O contrato do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 subiu de 13,02% para 13,17%. O contrato para janeiro de 2025 passou de 12,05% para 12,11%.
Na avaliação dos analistas, a piora nas projeções de inflação e as incertezas em relação ao cenário fiscal devem se sobrepor aos riscos de desaceleração da atividade, com um mercado de crédito mais restrito e aperto das condições financeiras. Soma-se a estes fatores também a preocupação com a situação bancária no exterior.
A Warren manteve sua projeção em 11% para os juros no fim do ano, mas Goldstein afirma que aumentou a probabilidade de que a Taxa Selic fique estável ao longo do ano ou só comece a cair nas últimas reuniões.
Antes da reunião, o governo esperava queda dos juros em maio, quando já deve ter sido apresentada a proposta do novo arcabouço fiscal, que vai substituir o teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior).
O projeto teve sua divulgação adiada para depois que Lula voltar da viagem à China. Ao comentar a reunião do Copom, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou o teor como “muito preocupante” e disse que, a depender das decisões futuras do BC, existe risco de comprometer o ajuste fiscal, citando preocupações com as vendas de empresas e o recolhimento de impostos.
A sócia e economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, diz que o comunicado deu ênfase aos riscos e foi contido ao fazer os reconhecimentos em relação à atuação do governo, como no caso da reoneração dos combustíveis. Para ela, a manutenção do trecho que destaca a possibilidade de nova alta dos juros caso seja necessário foi uma surpresa:
“O comunicado dá ênfase às expectativas. E elas andaram bastante nas últimas semanas, divergindo do centro da meta, que é de 3% em 2024”, disse. “No momento em que tiver o arcabouço que gere confiança no fiscal de médio prazo, e que a meta seja estabelecida e o governo diga que vai cumprir, podemos ter alguma estabilização das expectativas.”