Domingo, 29 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de dezembro de 2023
Um conjunto de ilhas paradisíacas no meio do Oceano Pacífico corre o risco de ser um dos primeiros países do mundo a desaparecer por causa das mudanças climáticas.
O ponto mais alto de Tuvalu, pequeno território no sul da Oceania, está a apenas cinco metros do nível do mar — nas próximas décadas, toda a região pode ser engolida pela água.
Os cerca de 11 mil habitantes tentam continuar existindo como povo. Para isso, buscam o título de “primeira nação digital do mundo”: o governo do país quer digitalizar desde a configuração física das ilhas até as danças tradicionais dos moradores. A ideia é que, digitalmente, a população possa inclusive participar de eleições.
“Nossa nação digital fornecerá uma presença on-line que poderá substituir nossa presença física e nos permitirá continuar a funcionar como um Estado”, disse o ministro Simon Kofe, de Justiça, Comunicação e Relações Exteriores. Em novembro, a Austrália fechou um acordo para receber os refugiados climáticos de Tuvalu que perderão seu território.
A crise não é uma surpresa: há anos, as autoridades tuvaluenses tentam alertar a comunidade global da urgência de ações pra combater a crise climática.
Em 2009, na Conferência do Clima (COP 15), com lágrimas nos olhos, o representante das ilhas, Ian Fry, pediu aos países em desenvolvimento que assumissem um compromisso quanto à redução de suas emissões. “O destino do meu país está nas mãos de vocês”, disse Fry, à época.
Doze anos depois, em 2021, o ministro Simon Kofe exibiu um vídeo na COP 26 com um figurino inusitado para o cenário: discursou de terno e gravata, dentro do mar e com a água até o joelho.
“Estamos afundando, mas o mesmo está acontecendo com todos. Não importa se sentimos os efeitos hoje, como Tuvalu, ou daqui a 100 anos”, afirmou.
Metaverso
Apesar dos alertas e dos pedidos de metas mais ambiciosas de combate à crise climática, as previsões de aumento da temperatura do planeta e de subida do nível do mar não mudaram.
“O mundo não agiu, e por isso nós, no Pacífico, tivemos de agir”, disse o ministro Kofe.
Foi quando, no final de 2022, o governo anunciou que iria “transferir” o país para o metaverso.
“À medida que a nossa terra desaparece, não temos outra escolha além de nos tornar a primeira nação digital do mundo. Nossa terra, nosso oceano e nossa cultura são os bens mais preciosos de nosso povo. Para mantê-los protegidos de danos, não importa o que aconteça no mundo físico, iremos movê-los para a nuvem”.
Nesta semana, enquanto acontecia a COP 28 (a cúpula do clima da ONU) em Dubai, Tuvalu anunciou o que já foi feito no projeto chamado “Future Now” (Futuro Agora). Simon Kofe informou que o país:
* mapeou tridimensionalmente as 124 ilhas e ilhotas que compõem o território;
* está criando um passaporte digital para que as pessoas possam continuar casando ou participando de eleições de forma on-line;
* investiu na infraestrutura nacional de comunicações.
“Um cabo submarino fornecerá a largura de banda necessária para mover o nosso país para a nuvem”, informou Kofe.
Além de mapear digitalmente o país, as autoridades também estão perguntando ao povo tuvaluano o que eles gostariam de “salvar”.
“As respostas, sejam artefatos de valor sentimental, o som da linguagem dos nossos filhos, a sabedoria das histórias dos nossos avós ou as danças vibrantes dos nossos festivais, serão todas digitalizadas e se tornarão parte da nossa arca digital”.
Apoio
E como fica a soberania de um país que existe apenas no mundo digital?
A Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados, de 1933, diz que um Estado consiste em um território definido e em uma população permanente.
Em setembro deste ano, Tuvalu mudou a definição de Estado na sua Constituição. Os novos termos dizem que “o Estado de Tuvalu, dentro do seu quadro histórico, cultural e jurídico, permanecerá perpetuamente no futuro, apesar dos impactos das alterações climáticas ou de outras causas que resultem na perda do território físico”.
Segundo Kofe, doze nações, como as Bahamas e o Gabão, já assinaram comunicados conjuntos com Tuvalu reconhecendo essa nova definição de estado.
O primeiro-ministro de Tuvalu, Kausea Natano, disse que o país continuará existindo e que sua soberania não é negociável.