Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2023
Marcelle Decothé da Silva, de 29 anos, atuava no governo federal desde fevereiro.
Foto: ReproduçãoExonerada do Ministério da Igualdade Racial nesta semana, após a repercussão de postagens em que fazia comentários negativos sobre a torcida do São Paulo, Marcelle Decothé da Silva, de 29 anos, atuava no governo federal desde fevereiro deste ano, quando assumiu o cargo de assessora especial de Assuntos Estratégicos da pasta. O último salário da então servidora, pago em julho, foi de R$ 17,1 mil.
No último domingo (24), durante a final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo, Marcelle, que é torcedora do Flamengo, fez uma postagem nas redes sociais em que criticava os são-paulinos presentes no Morumbi.
“Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade”. Ainda usando a linguagem neutra, Marcelle complementou a mensagem com um comentário de cunho xenofóbico: “Pior, tudo de pauliste”, disse em publicação no Instagram.
A ex-assessora estava no estádio acompanhando Anielle Franco, que assinou na ocasião, junto ao Ministério do Esporte e à CBF, um protocolo de intenções referentes ao combate do racismo no esporte. Ao anunciar a exoneração de Marcelle, o ministério disse reafirmar “seu compromisso inegociável com a promoção de direitos e com a igualdade étnico-racial, a partir de princípios como a transparência e o cuidado”. A pasta afirmou ter reerguido “a agenda de ações afirmativas e colocamos em prática medidas fundamentais de inclusão e valorização da população negra”, mas frisou que preza “pela boa conduta das servidoras e servidores que compõem o nosso quadro”.
A relação entre Marcelle e a ministra Anielle Franco, porém, é de longa data. As duas trabalharam juntas no Instituto Marielle Franco, que leva o nome da vereadora assassinada em 2018, irmã de Anielle. Na ONG, Decothé atuou como gestora de programas por cerca de três anos, até migrar para o ministério.
Antes, Marcelle teve outra experiência no terceiro setor, desenvolvendo, de 2016 a 2019, campanhas focadas em direitos humanos para a Anistia Internacional Brasil. Ativista política e pesquisadora, a até então assessora especial também é cofundadora da iniciativa Pipa, que busca atrair investimentos privados para coletivos e movimentos baseados em favelas e periferias.
Marcelle foi ainda assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no gabinete da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL), entre 2019 e 2020. A parlamentar, antes de lançar uma candidatura própria, atuou como assessora de Marielle Franco na Câmara do Rio.
A agora ex-servidora do Ministério da Igualdade Racial é formada em Defesa e Gestão Estratégica Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também concluiu o mestrado em Políticas Públicas em Direitos Humanos. Atualmente, segundo informações fornecidas por ela em uma rede social voltada para temas profissionais, cursa doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), na área de Sociologia.
Como assessora especial da pasta, ela foi escolhida para integrar o Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, criado pela CBF no último passado. A entrada de novos integrantes no grupo, entre eles dois representantes do ministério, foi anunciada no dia 27 de junho, no site da Confederação Brasileira de Futebol. A nota que anunciou o desligamento de Marcelle, divulgada nesta terça-feira (26), não fez menção ao posto que ela ocupava no grupo de trabalho liderado pela CBF.
A iniciativa reúne 46 membros de 30 entidades diferentes e tem o objetivo de “discutir os aspectos legais e operacionais relacionado ao aprimoramento do marco regulatório, das políticas públicas e dos procedimentos desportivos, bem como da coordenação das ações pelos diferentes agentes, públicos e privados, envolvidos no enfrentamento do racismo e da violência no futebol”.
Durante participação em um podcast no fim do ano passado, Marcelle teceu críticas ao PT, chamado por ela de “partido tradicional, com muitos caras brancos na linha de frente”.