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Política Venda ilegal de joias foi para o patrimônio de Bolsonaro e custeou despesas nos Estados Unidos, afirma Polícia Federal

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A conclusão da PF está no inquérito sobre as joias sauditas.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A conclusão da PF está no inquérito sobre as joias sauditas. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Polícia Federal (PF), em inquérito enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que o dinheiro das joias sauditas, vendidas ilegalmente por auxiliares de Jair Bolsonaro, entrou para o patrimônio do ex-presidente e serviu para custear as despesas dele e da família nos Estados Unidos, no início de 2023.

A conclusão da PF está no inquérito sobre as joias sauditas, dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita ao governo brasileiro durante a gestão Bolsonaro. Os conjuntos de joias milionárias deveriam ter ido para o patrimônio do Estado, mas não foi isso que aconteceu. Conforme a PF, foram parar no patrimônio pessoal do ex-presidente.

Nesse inquérito, Bolsonaro foi indiciado por três crimes: peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Cabe agora à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se há elementos suficientes para oferecer denúncia ao STF. No relatório ao Supremo, a PF escreve:

“Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, afirmou a PF.

Em seguida, a polícia diz como esse dinheiro pode ter sido usado por Bolsonaro e família nos Estados Unidos. Bolsonaro viajou para os Estados Unidos no fim de dezembro, antes de passar a faixa presidencial para o presidente Lula. Ficou lá por três meses, até março do ano passado.

“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, completou a PF.

“A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”, completou a PF.

Ainda segundo a Polícia Federal, as ordens para a venda das joias partiram diretamente de Bolsonaro para seus auxiliares. É o que a polícia conclui a partir de depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, ex-auxiliar do presidente.

“As declarações prestadas por Osmar Crivelatti, Mauro Cesar Lourena Cid e pelo colaborador Mauro Cesar Barbosa Cid corroboram os demais elementos de prova colhidos demonstrando, de forma inequívoca, que as esculturas douradas de um barco e uma palmeira, presentes entregues por autoridades estrangeiras, ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, foram intencionalmente, subtraídas do acervo público brasileiro, por determinação do ex-presidente, para serem vendidas ilegalmente nos Estados Unidos”, escreve a polícia.

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Osmar Crivelatti, afirmou que ele e Mauro Cid deram ordens para retirada de kits de joias do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) do Planalto.

Além disso, Crivelatti afirmou que um dos relógios recebidos de presente, de marca Patek Philippe, sequer chegou a ser registrado no sistema de bens do acervo privado do ex-presidente. Crivelatti ainda falou que o kit de ouro rosê, que foi a leilão na casa de leilões Fortuna Auctions, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, foi entregue para o ex-presidente na casa onde estava vivendo, do ex-lutador José Aldo, em Kissimee, na Flórida.

Em seguida, a Polícia Federal percebeu que Crivelatti havia mentido no depoimento anterior, a respeito da origem do kit de joias em ouro rosê e ele se justificou dizendo que manteve a mesma versão que seu colega, Marcelo Costa Câmara.

“Tinha ciência de que o Coronel Marcelo Costa Camara, em declarações anteriores à Polícia Federal. tinha afirmado falsamente que o kit em ouro rosê estaria na fazenda Piquet; que, diante disso, quando foi convocado a prestar esclarecimentos na Polícia Federal, o declarante procurou manter a mesma versão, mesmo ciente da falsidade das afirmações”, afirmou Crivelatti.

Posteriormente, Crivelatti ainda confirmou à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu esculturas douradas de um barco e uma palmeira e que, assim como o relógio, esses itens também não foram registrados no acervo privado.

Crivelatti contou que a escultura foi para os Estados Unidos em 30 de dezembro e retornou ao Brasil no ano seguinte, nas mãos do general Lourena Cid, que a entregou em frente a um restaurante no Setor Militar Urbano, em Brasília. Posteriormente as esculturas foram levadas para o gabinete de Bolsonaro na sede do PL para mostrar ao colega Marcelo Câmara. Na sequência, eles deixaram os itens na fazenda do ex-piloto de fórmula 1, Nelson Piquet.

Segundo a PF, Bolsonaro deu aval para o leilão das joias. A polícia se baseia em uma troca de mensagens entre ele e Mauro Cid. Cid manda o link do leilão, e Bolsonaro responde com o jargão militar “Selva”.

“No dia 04 de fevereiro de 2023, Mauro Cid envia o link do leilão do kit Rosé da loja Fortuna Auctions, que iria ocorrer no dia 08 de fevereiro, para o contato “Pr Bolsonaro 2023”, telefone utilizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Este [Jair Bolsonaro] responde com o jargão ‘Selva’, escreve a PF.

A PF apurou ainda que, ao todo, as joias dadas ao governo Bolsonaro somam R$ 6,8 milhões, em valores de hoje. Não significa que todo esse dinheiro tenha ido para o ex-presidente.

O relatório da polícia afirma que o objetivo da venda era o enriquecimento ilícito do ex-presidente.

“No sentido de valorar os bens que foram objeto dos atos de desvio (e tentativa de desvio) perpetrados pela associação criminosa com a finalidade de enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro, as joias foram submetidas à procedimento pericial, com o objetivo, dentre outros, de aferir o valor mercadológico dos bens”, explicou a PF.

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