Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de agosto de 2015
O governo da China diz que mais de 12 mil transplantes serão realizados neste ano. Mesmo assim, com estimadas 300 mil pessoas na fila da doação, a demanda fez surgir um bem-sucedido mercado negro. Após semanas de investigação, um jovem de 21 anos que afirma ter vendido um rim.
Levantando sua camiseta, ele mostra a cicatriz da operação. O jovem diz que vendeu um rim por cerca de 4 mil libras – aproximadamente 22 mil reais – para pagar dívidas de jogo. A venda do órgão teria sido acertada pela internet.
“No início fui levado para um hospital, onde tiraram amostras de sangue e fizeram exames”, diz. “Depois esperei em um hotel por várias semanas até que os traficantes de órgãos acharam uma pessoa compatível. Então, um dia, um carro veio me buscar. O motorista disse para eu colocar uma venda nas olhos. Dirigimos por cerca de meia hora por uma rua esburacada. Quando tirei a venda percebi que estava em uma fazenda. Dentro havia toda uma estrutura de hospital montada. Médicos e enfermeiras usavam uniformes. A mulher que recebeu o órgão também estava lá com sua família. Não nos falamos. Tive muito medo, mas os médicos me deram anestesia e eu apaguei. Acordei em uma outra fazenda. Meu rim não estava mais lá. A compradora queria vida e eu, dinheiro”, afirma.
Escassez.
A chinesa Lian Ronghua, 51 anos, se deparou no início do ano com o pior dilema que uma mãe pode imaginar: escolher qual de seus filhos poderia morrer. Ambos sofriam de uremia, uma condição que leva à falência dos rins. Mas a mãe poderia doar apenas um dos seus dois órgãos e o pai deles foi proibido de doar porque tem pressão alta.
“Eu não sei por que meus dois filhos estão doentes”, disse ela, com lágrimas no rosto. No final, não foi ela quem tomou a decisão. Seu filho mais velho, Li Haiqing, 26, achou que o irmão de 24 anos, Haisong, deveria receber o rim da mãe. “Eu quis dar o rim para o meu irmão porque ele é mais novo e tem mais chance de se recuperar”, disse Haiqing, que foi forçado a desistir dos estudos de medicina por causa da doença.
“Claro que eu espero ganhar um rim antes que seja tarde demais. Mas se eu não conseguir, vou continuar fazendo hemodiálise”, disse. Mas ele tem poucas chances de conseguir um transplante, já que a China sofre com uma grande escassez de órgãos. Por anos, eles aproveitaram órgãos de prisioneiros mortos para atender a demanda.
Mas, após condenação internacional, Pequim afirma que acabou com a prática no início do ano – embora autoridades admitam ser difícil garantir que a regra está sendo cumprida. Agora, o governo diz que só usará doações voluntárias.
O país montou um banco nacional de órgãos que, em tese, deveria distribuir órgãos para aqueles que são mais compatíveis e precisam mais. (AG)