Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2015
O governo da Venezuela autorizou nesta terça-feira (16) o pouso de um avião militar da FAB (Força Aérea Brasileira) em Caracas com senadores brasileiros que esperam se encontrar com familiares de presos políticos no país vizinho. O ministro Jaques Wagner (Defesa), que fez o anúncio da decisão, declarou que a solução foi a “melhor possível”.
“Não havia sido negado, simplesmente não havia sido respondido e eu estava trabalhando também para mostrar que era melhor, que são senadores, que chegassem num avião oficial do Brasil. Eles garantiram toda a circulação [dos senadores] dentro da autonomia deles”, afirmou o ministro.
Wagner se reuniu na noite dessa terça-feira com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para comunicar a autorização do Executivo venezuelano. Ao longo do dia, senadores da oposição fizeram sucessivos protestos contra o silêncio do governo do presidente Nicolás Maduro, que não havia se manifestado sobre o pedido para a aeronave da FAB pousar no país.
O ministro disse, porém, que o governo da Venezuela não autorizará a visita dos senadores brasileiros aos presídios onde estão detidos políticos venezuelanos da oposição. “Eles não vão autorizar a visita, como não autorizaram de outras autoridades. Mas, do ponto de vista da chegada dos senadores e da conversa com os familiares, aí está tudo garantido.”
Calheiros disse estar “aliviado” com a decisão do governo venezuelano para garantir a “normalidade” da visita dos senadores ao país. “Estava preocupado. Já pensou se os senadores vão em uma aeronave privada e esse avião é abatido?”, ressaltou o presidente do Senado.
Líder da comitiva de senadores, Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a decisão foi “acertada” e elogiou a postura de Wagner. Os senadores deverão sair do Brasil na quinta-feira, às 11h30min.
“Me parece o gesto do ministro Jaques extremamente correto e até de reciprocidade. O Brasil recebeu na semana passada o presidente da Assembleia venezuelana, que veio também em um avião oficial. E nós vamos lá, atendendo a um convite das oposições da Venezuela, agora de forma oficial, em uma aeronave oficial”, afirmou o parlamentar tucano. A intenção da viagem, segundo Aécio Neves, é “fazer mais um chamamento à libertação dos presos políticos e também clamar pela definição da data das eleições parlamentares naquele país, sob a fiscalização e também o acompanhamento de organismos internacionais”.
O Ministério da Defesa ofereceu o avião e havia pedido, na semana passada, autorização para pousar no país. O silêncio do governo de Maduro foi interpretado por Calheiros e senadores da oposição como uma “negativa” ao pedido do Brasil. Com o recuo do governo venezuelano, os senadores brasileiros utilizarão a aeronave para chegar a Caracas.
Antes da confirmação oficial da autorização, os senadores anunciaram que viajariam em um avião fretado por DEM e PSDB para garantir a visita da oposição ao país. Os partidos usariam recursos próprios, do fundo partidário, para custear a ida à Venezuela no avião alugado.
Irritado com o silêncio da Venezuela, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) chegou a defender o rompimento de acordos legislativos do Brasil com a Venezuela. O parlamentar prometeu apresentar um projeto para suspender os acordos se não recebesse nenhuma resposta do governo brasileiro sobre o caso. Caiado também ameaçou obstruir todas as sabatinas de embaixadores brasileiros na Comissão de Relações Exteriores do Senado se o governo venezuelano se recusasse a deixar o avião militar pousar no país.
Soberania
Caiado chegou a afirmar que apresentaria requerimento à Comissão de Relações Exteriores solicitando a exclusão da Venezuela do bloco do Mercado Comum do Sul. Também antes da autorização, o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), reconheceu que havia de fato uma questão de soberania no caso, mesmo fazendo a ressalva de que não falava em defesa da Venezuela. A seu ver, não haveria como um avião da FAB pousar em qualquer país sem autorização de suas autoridades. Mas sustentou que o caso não se constituiria em uma crise diplomática.
A comitiva de senadores brasileiros tem a intenção de visitar presos políticos daquele país, como Leopoldo Lopez (líder do partido Vontade Popular), o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma e o ex-prefeito de San Cristobal Daniel Ceballos. Todos eles fazem oposição a Nicolás Maduro, e alguns estão em greve de fome no momento. (Gabriela Guerreiro/Folhapress e Agência Senado)