Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2017
Desde o fim de março, a Venezuela vive uma agudização de sua crise política, sem sinais de uma saída negociada para o impasse entre o governo chavista de Nicolás Maduro e a coalizão de oposição, reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD). Acuado por uma queda de popularidade e o desmantelo do projeto bolivariano, no país e no continente, o presidente venezuelano não quer conversa com os adversários políticos e recorre ao desgastado ilusionismo anti-imperialista, acusando a oposição de ser guiada por interesses de Washington e de grupos empresariais.
Mas, enquanto conclama os bolivarianos a combaterem a tentativa de desestabilização de seu governo, Maduro diz muito pouco sobre a grave desestruturação econômica e social — marcada por hiperinflação, racionamentos, desabastecimento e delinquência — e o crescente fechamento do regime rumo a uma ditadura. Sem uma negociação que permita o país voltar à normalidade institucional, os conflitos se sucedem numa escalada que, se não for contida, ameaça se transformar numa guerra civil, com consequências desastrosas para todo o continente.
A atual onda de protestos começou após a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) de intervir na Assembleia Nacional (AN), onde a oposição tem maioria, e tentar assumir as funções legislativas. A pronta reação da sociedade, que se mobilizou contra a medida, levou o tribunal, por ordem de Maduro, a rever a lei dois dias depois o anúncio. Mas já era tarde. A população permaneceu nas ruas para exigir a independência dos poderes republicanos, a libertação de presos políticos e a antecipação das eleições presidenciais.
O governo reagiu com truculência sem conseguir sufocar o movimento. Nesses quatro meses e meio, 102 pessoas já morreram, mais de mil ficaram feridas e cerca de 1.500 manifestantes foram presos. Maduro também anunciou a convocação de uma Assembleia Constituinte, repetindo a estratégia de seu mentor, Hugo Chávez. Este, no auge de sua popularidade, mudou a Constituição do país reforçando seus poderes. Maduro o copia agora, embora longe de ter a mesma aprovação do antecessor. A Constituinte se sobrepõe à AN, eleita pelo voto popular, aos governos estaduais e tribunais e representa, portanto, o golpe final na democracia venezuelana.
A oposição fez passeatas, greves gerais, realizou um plebiscito simbólico, que obteve mais de sete milhões de votos contra a Constituinte e elegeu juízes para um TSJ paralelo. Na quarta-feira, o governo dos EUA adotou sanções contra 13 altos funcionários do governo de Maduro, que reagiu, bloqueando as contas dos 33 novos magistrados nomeados pela AN. Desses, aliás, três foram presos, acusados de traição.
A oposição mostra fôlego e criatividade em sua mobilização, a comunidade internacional cobra uma saída negociada, mas Maduro se mostra cada vez mais intransigente, empurrando a situação para uma perigosa ruptura institucional. (AG)