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Vera Fischer relembra carreira e romances: “Depois dos 70 as coisas mudam”

Atriz ensaia nova peça, gravou participação em filme da TV Globo e diz estar ávida por novidades. (Foto: Reprodução)

Uma neblina espessa paira sobre Copacabana numa tarde de dezembro. De frente para o mar, na varanda de um hotel cinco estrelas, Vera Fischer toma um café, mira o céu e diz: “Acho que estou num momento de transição, pensando loucamente em algo novo. Por enquanto, está meio foggy (enevoado), como lá fora. Às vezes, você não vê nada no horizonte. Mas, quando o nevoeiro se vai, enxerga.”

Um mês depois, as novidades chegam em áudios entusiasmados via WhatsApp. “Estou ensaiando a peça ‘O casal mais sexy da América’”, avisa, sobre a produção dirigida por Tadeu Aguiar, com estreia prevista para abril. Escrito pelo americano Ken Levine, o texto conta a história de dois atores com mais de 60 anos que fizeram, nos anos 1990, um seriado de sucesso na TV. Eles se reencontram no funeral de um colega de elenco, onde assuntos do passado e do presente, como assédio e etarismo, vêm à tona.

Especialmente latentes no meio artístico, os temas aparecem também ao longo desta entrevista de duas horas. A atriz, de 73 anos, iniciou a carreira como miss e foi estrela da pornochanchada e da era de ouro das novelas brasileiras. Alçada a símbolo sexual, não se dobrou às investidas masculinas e sofreu as consequências. Ainda assim, fala sobre as dores e as glórias do passado com a segurança de quem tem poucos arrependimentos. Reconhece que poderia ter sido mais disciplinada financeiramente e, mesmo ao relembrar a exploração midiática de sua intimidade quanto ao uso de drogas e ao relacionamento turbulento com o ator Felipe Camargo, nos anos 1990, não se culpa. “Fiz o que tinha que fazer”, afirma.

Vera também sabe que, por trás do tal nevoeiro, novas memórias estão por vir a reboque de um universo de possibilidades. Recentemente, gravou participação no filme “Coisa de novela”, com lançamento previsto para abril, na programação especial de 60 anos da TV Globo. Na produção protagonizada por Susana Vieira e Valentina Herszage, ela interpreta a si mesma em meio a outros astros que fizeram história na emissora, como Tony Ramos e Ary Fontoura. “Foi uma oportunidade de encontrar amigos queridos. Adorei e acho que todo mundo vai amar”, aposta. Na conversa a seguir, além de relembrar marcos da carreira, a atriz fala sobre sexo e vida afetiva.

Filmografia diversa

“Fiz de filmes cabeça, tipo Walter Hugo Khouri, a pornochanchada. Atuei em longas de Sérgio Rezende, Cacá Diegues, Plínio Marcos… É uma filmografia muito diversa. Hoje, sinto falta de uma mulher da minha idade (como personagem) passando pelas coisas que passamos. Por que não podemos discutir isso no cinema, no streaming ou no teatro?”

Aborto

“Passei por isso muito cedo e tive a sorte de encontrar uma ginecologista que me explicou que não era um bicho de sete cabeças. É um absurdo obrigar alguém a ter um filho. Vivemos num país onde as pessoas não têm o que comer. Tive os meus dois filhos exatamente quando quis.”

Assédio

“Sofri muito e, ao mesmo tempo, havia muita indiferença das colegas. Tive sempre que me virar sozinha. Precisei criar uma fórmula para me manter no trabalho. Inventava que tinha problemas ginecológicos, por exemplo. Mas tem que ter coragem para dizer isso para um produtor ou diretor. Já fui mandada embora da TV por não ceder. E não voltei atrás! Foi quando comecei a fazer teatro. Conheço pessoas da minha época que não aguentaram a pressão. Ficaram doentes, partiram para a bebida.”

Depois dos 70

“Aos 50 anos, estava no auge. Depois dos 70, as coisas mudam. Estou achando meio complicado, não estou gostando. Mas vou dar uma chance para que algo bom aconteça até os 78. Sou uma pessoa muito apaixonada. Então, gosto de me jogar e até de me machucar. Gosto de sentir grandes sensações. Às vezes, bate vontade de mudar tudo. Já escrevi livro, pintei… No quesito arte, posso surpreender a cada minuto. Agora, tenho pensado em criar uma marca de beleza para mulheres com mais de 50 anos. Sempre me cuidei e, a partir dos 70, é preciso se cuidar ainda mais.”

Além das redes

“Sinto que as pessoas estão muito fakes, mentem que estão felizes. Vejo cada coisa nas redes que quero me jogar no fundo do mar. Prefiro ver meus filmes, minhas séries, ler meus livros e ficar com os meus gatos. Tenho menos amigos hoje em dia porque os amigos, talvez, não fossem amigos. Eram pessoas que gostavam de aproveitar. Então, isso você vai eliminando também.”

Vida afetiva

“Namorado? Nem pensar! Eu me habituei a viver sozinha. É engraçado flertar, jogar um charme… Mas não tem condição de alguém conviver comigo, sou muito intratável. Quanto ao sexo, é uma coisa que você faz sozinha. Se tem imaginação, não precisa de mais nada.”

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