O vereador Sandro Fantinel (PL), de Caxias do Sul, voltou nesta semana aos holofotes nacionais, por defender a poda de árvores como estratégia para conter deslizamentos de encostas – tese que contraria informações de especialistas ambientais. Trata-se do mesmo parlamentar que, no ano passado, minimizou os flagrantes de trabalho análogo à escrevidão na Serra Gaúcha.
“Em todas as barreiras que caíram na minha região, o que causou o desmoronamento foi o peso das árvores, porque em solo encharcado as raízes não seguram mais”, teorizou durante manifestação na tribuna da Câmara Municipal. A fala foi rebatida por colegas, que o acusaram de espalhar fake news e de basear seus posicionamentos em mensagens de whatsapp sem embasamento na realidade.
Ligado ao agronegócio, Fantinel já havia defendido, dias antes, a derrubada de vegetação: “Se fossem retiradas todas as árvores das rodovias do Interior do Estado, 95% delas não sofreriam com o problema, porque as árvores são pesadas e cedem com o peso da chuva, permitindo que os barrancos avancem até a estrada”.
O vereador também afirmou que outros Estados têm culpa pela catástrofe climática do Rio Grande do Sul: “Nosso Estado tem quatro vezes mais florestas que o Centro do País. São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e toda aquela região destruiu matas por causa da grandeza das cidades, causando aumento na temperatura e um bolsão de ar quente, sem que a umidade da Amazônia consiga entrar lá e desviando pelos Andes até bater por aqui (…)”.
Cassação arquivada
Exatamente um ano atrás, Sandro Fantinel escapou de perder o mandato. Ele era alvo de quatro processos de cassação por falas sobre trabalhadores baianos resgatados em condição análoga à escravidão na Serra Gaúcha, mas as acusações acabaram arquivadas pela Câmara Municipal de Caxias do Sul.
As representações haviam sido protocoladas pelas Defensorias Públicas do Rio Grande do Sul e da Bahia, bem como pelo ex-vice-prefeito Ricardo Fabris. Por maioria de 13 votos a nove, seus colegas optaram por mantê-lo no cargo. Ele foi expulso do partido Patriota e posteriormente se filiaria ao PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No dia 28 de fevereiro de 2023, ele havia utilizado a tribuna do Legislativo local para minimizar episódio envolvendo flagrante de exploração de mão-de-obra em condições desumanas em uma propriedade rural da região, tendo como vítimas trabalhadores procedentes da Região Nordeste do País:
“Esse povo baiano vive na praia tocando tambor (…) Deixem de lado essa gente acostumada com Carnaval e festa, para não se incomodar novamente. Melhor é contratar argentinos, que são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário e ainda agradecem ao patrão”.
Alvo de críticas em todo o País, Fantinel alegou ter sido “mal interpretado” e que a maneira como o seu discurso foi divulgado fez parte do “trabalho de oposição da esquerda”. Disse, ainda, que suas declarações haviam sido fruto de “um momento de lapso mental”.
(Marcello Campos)