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Vereadora que denunciou gesto nazista em manifestação é cassada em Santa Catarina

Maria Tereza Capra (PT) perdeu mandato após ter dito que manifestantes fizeram apologia ao nazismo. (Foto: Reprodução)

A vereadora Maria Tereza Capra (PT) foi cassada por unanimidade pelos seus colegas de São Miguel do Oeste (SC) na conclusão de um processo aberto após ela denunciar que bolsonaristas fizeram um gesto neonazista durante uma manifestação em apoio ao então presidente Jair Bolsonaro.

A manifestação ocorreu em frente a uma unidade do Exército na cidade no dia 2 de novembro, logo depois de Bolsonaro ter sido derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial. Inconformados, bolsonaristas fizeram atos semelhantes pelo país em frente a postos militares para pedir uma intervenção que impedisse a posse do petista.

Uma imagem de São Miguel do Oeste, que viralizou pelo País, mostra os manifestantes com os braços estendidos, em uma saudação que foi interpretada por muitos como uma saudação nazista – os manifestantes alegam que estenderam as mãos, a pedido do orador do ato, para emanar energias positivas em direção à bandeira do Brasil e à unidade do Exército.

A vereadora, presidente do PT no município, passou a ser atacada por moradores depois que fez uma publicação sobre o ato nas redes sociais. No vídeo, ela afirmou que Santa Catarina se tornou berço dos grupos neonazistas do país, disse que os manifestantes repetiram um dos momentos mais dramáticos que a população mundial já viveu e pediu que o Ministério Público investigue o caso – a investigação foi aberta, mas já foi arquivada.

Em grupos de WhatsApp, moradores da cidade defenderam que a vereadora fosse agredida fisicamente. “Tem que todo mundo ir lá e fazer ela sentir o coro ardido”, “Ela vai engolir as palavras quando sair na rua”, dizem algumas mensagens. “Esse povinho do PT que postou uma insanidade dessas tem que tomar na cara mesmo”, diz outra.

Capra também foi xingada de “porca”, “nojenta” e “falsa”. Na página da Câmara dos Vereadores no Facebook, alguns internautas defenderam que ela fosse expulsa da cidade. A vereadora também encontrou uma mensagem com xingamentos escrita em seu carro, na frente de sua residência. Ela registrou boletim de ocorrência sobre as ameaças e se mudou para a casa de familiares em Porto Alegre.

Após postar o vídeo da manifestação com o seu comentário, a vereadora se tornou alvo de uma investigação no Conselho de Ética da Câmara, acusada de “propagar notícias falsas e atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao município de São Miguel do Oeste o crime de fazer saudação nazista e ser berço de célula neonazista”. O relatório foi aprovado na madrugada deste sábado, em sessão extraordinária que durou mais de nove horas, com dez votos favoráveis e apenas um contra – o da própria vereadora.

A vereadora, que será substituída por outro parlamentar do PT, ainda pode recorrer à Justiça contra a decisão.

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