A versão do senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre o suposto plano golpista encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro envolve o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O senador capixaba afirmou que consultou Moraes previamente sobre se deveria conversar com Bolsonaro e disse ter sido incentivado pelo ministro. “E assim eu fui”, relatou Do Val, em entrevista coletiva.
Como o ministro é o relator do inquérito que investiga os atos golpistas, a conversa, se comprovada, poderia indicar que Moraes orientou a busca de provas contra o ex-presidente e reforçar a tese dos bolsonaristas de que ele o persegue. Assim como ocorreu na Lava Jato, isso poderia ser usado como argumento para um pedido de nulidade do processo dos atos golpistas.
O senador não apresentou prova de sua declaração. A assessoria do Supremo disse que o ministro não iria comentar o assunto. Em conversas reservadas, Moraes afirmou ontem que não teria sentido ele orientar um bolsonarista a falar com o então presidente.
A versão de Moraes dada a interlocutores é de que ele recebeu Marcos do Val no Salão Branco do Supremo, uma área reservada aos ministros atrás do plenário, e ouviu relato de um plano para grampeá-lo. O pedido para que o senador gravasse o ministro ilegalmente teria partido do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).
“Na quinta-feira, antes de ir à reunião com ele (Bolsonaro), eu fui ao STF, conversei com o ministro Alexandre de Moraes, porque o processo todo referente ao Daniel é com ele, e perguntei: ‘Ministro, o senhor acha que eu devo ir ou não devo ir?’. Aí o ministro disse: ‘Vai porque informações são importantes’. E assim eu fui”, relatou o senador.
Depois do encontro com Bolsonaro e Silveira, o senador disse que escreveu ao ministro novamente por WhatsApp e agendou um segundo encontro, na tarde de 13 de dezembro, no STF. O objetivo era, segundo Do Val, relatar a conversa a Moraes sobre o plano bolsonarista. “Ele ficou impressionado”, contou.
Proposta Ideia era tentar tirar Alexandre de Moraes de ação que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro
Do Val também afirmou que ele e Moraes se conhecem da época em que deu treinamentos a policiais em São Paulo. O ministro era então secretário de Segurança Pública no governo Geraldo Alckmin.