Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2023
A série Doctor Who, sem dúvida, é uma das histórias mais famosas sobre viagens no tempo. Ao lado de A Máquina do Tempo, de H. G. Wells, e da trilogia De Volta para o Futuro, Doctor Who — que completa 60 anos em 2023 — explora as tentações e os paradoxos de visitar o passado e se aventurar no futuro.
Na série de TV, o Doutor viaja pelo tempo na Tardis — uma nave sofisticada que pode ir a qualquer lugar, no tempo e no espaço. A Tardis ficou famosa por desafiar nossa compreensão do espaço físico, já que a nave é maior por dentro do que parece por fora.
E a Tardis tem também uma aparência única. Uma falha no seu sistema de camuflagem fez com que ela assumisse a forma de uma antiga cabine telefônica policial britânica e não conseguisse mais mudar o seu aspecto.
Na série, a função de camuflagem é chamada de “circuito camaleão” — um erro lamentável, já que os camaleões mudam de cor principalmente para avisar uns aos outros, não como disfarce.
De qualquer forma, por mais que as viagens no tempo possam ser importantes para Doctor Who, a série nunca tenta basear as capacidades da Tardis em nada que se assemelhe à física do mundo real. Seria estranho reclamar disso — afinal, Doctor Who pretende ser um conto de fadas, sem se basear na ficção científica realista.
E no mundo real? Será que, algum dia, conseguiremos construir uma máquina do tempo e viajar para o passado distante, ou ver nossos tatatatatatatataranetos no futuro?
Para responder a esta pergunta, é preciso compreender como realmente funciona o tempo — algo que os físicos estão longe de conhecer com certeza.
A velocidade do tempo
O que podemos afirmar com convicção no momento é que viajar para o futuro é possível, mas voltar ao passado pode ser extremamente difícil, ou absolutamente impossível.
Vamos começar com a teoria da relatividade de Albert Einstein. Ela descreve o que é o espaço, o tempo, a massa e a gravidade. Uma conclusão fundamental da teoria da relatividade é que o fluxo de tempo não é constante. O tempo pode acelerar ou andar mais lentamente, dependendo das circunstâncias.
“É aqui que pode entrar a viagem no tempo, ela é cientificamente precisa e existem repercussões no mundo real”, afirma a astrofísica Emma Osborne, da Universidade de York, no Reino Unido.
O tempo passa mais devagar, por exemplo, se você viajar em alta velocidade — embora seja preciso chegar perto da velocidade da luz para observar efeitos significativos.
Tal fenômeno gera o paradoxo dos gêmeos, em que um de dois gêmeos idênticos se torna astronauta e sai em disparada pelo espaço, perto da velocidade da luz. Enquanto isso, o outro irmão permanece em terra firme.
O resultado é que o astronauta irá envelhecer mais lentamente do que o irmão gêmeo que mora na Terra.
“Se você viajar e voltar, você realmente será mais jovem que o seu irmão gêmeo”, segundo o físico quântico Vlatko Vedral, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Os gêmeos Scott e Mark Kelly viveram esta experiência entre 2015 e 2016, quando Scott passou meses no espaço, mesmo não tendo atingido velocidades próximas à da luz.
Da mesma forma, o tempo passa mais devagar se você estiver em um campo gravitacional intenso, como um buraco negro.
“A sua cabeça envelhece mais rápido que os seus pés, pois a gravidade da Terra é mais forte nos pés”, segundo Osborne. Doctor Who abordou este fenômeno no final da sua 10ª temporada. No episódio intitulado World Enough and Time (“Mundo e Tempo Suficientes”), o 12º Doutor e seus amigos ficam presos em uma espaçonave perto de um buraco negro.
Na frente da nave, mais perto do buraco negro, o tempo passa mais lentamente do que na parte de trás. Com isso, um pequeno grupo de cybermen (raça fictícia de ciborgues) na parte traseira da nave consegue se transformar em um imenso exército em questão de minutos, do ponto de vista do Doutor.
Esse mesmo efeito da gravidade sobre o tempo também foi incluído no roteiro do filme Interestelar (2014).
No nosso dia a dia, esses efeitos da teoria da relatividade são pequenos demais para podermos observá-los. Mas eles afetam os satélites que usamos para nos orientar pelo GPS, o sistema de posicionamento global.
“Os relógios no céu andam mais rápido que os relógios na Terra” e precisam ser constantemente acertados, segundo Osborne. “Se não acertássemos, o Google Maps apresentaria erros de cerca de 10 km por dia.”