Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 23 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Viamão, que foi capital do Estado, foi Capital Farroupilha, foi sede para os tropeiros que rumavam ao Uruguai com suas mercadorias; que já teve Tapir Rocha como deputado estadual e que ficou anos sem representação no parlamento do estado, no dia 14 de novembro, finalmente deu um passo “importante” para sua história: fomos declarados a Capital do Beach Tennis. Segundo o Projeto de Lei 60/2024, do deputado Valdir Bonatto (PSDB), esse título “valoriza a cidade que sedia eventos de destaque no cenário mundial do esporte”, conforme o autor da lei.
Vejamos: uma cidade onde faltam espaços para a prática do futebol – o esporte mais popular do Brasil – agora é, magicamente, referência internacional em beach tennis. Eu arriscaria perguntar quantas pessoas em Viamão jogam beach tennis ou sequer sabem como funciona esse esporte, mas vou pular essa parte. Só sei que a maioria que me lê neste momento sequer ouviu falar de torneios relevantes da modalidade na cidade.
O ostentoso título de Capital do Beach Tennis chega na véspera do “Sul Special Cup”, um torneio internacional que será realizado no Vila Ventura, um hotel de alto padrão que boa parte dos viamonenses só conhece por fotos – e nem sonha em frequentar. Os ingressos, que são limitadíssimos, custam a “bagatela” de R$ 300. Para melhorar o cenário, a Prefeitura da cidade doou uma boa quantia: quase R$ 150 mil para financiar o evento, tudo aprovado às pressas pela maioria dos nossos dedicados vereadores.
Mas, afinal, o que significa ser a “Capital do Beach Tennis” para quem espera meses por uma consulta médica? Para quem morre esperando uma cirurgia? Ou para quem está precisando alugar caminhões para retirar o lixo da frente de casa, já que há seis meses a coleta é irregular e a população convive com montanhas de lixo pelas ruas? A verdade é que o título é muito bonito no papel, mas não apaga a frustração de quem esperava mais de quem nos representa. É para isso que elegemos deputados? Se perguntam os viamonenses agora.
“Ah, Guto, mas só reclama de tudo?” Não se trata de reclamar de tudo. É sobre apontar o que realmente precisamos. Uma cidade com tantos desafios básicos não pode se dar ao luxo de transformar o supérfluo em prioridade. É sobre cobrar coerência e responsabilidade dos nossos representantes.
Os recursos que sustentam esse tipo de “projeto de impacto” vêm do bolso do viamonense. O mesmo viamonense que, enquanto isso, enfrenta ruas esburacadas, falta de iluminação pública, postos de saúde sem médicos e uma educação que luta para oferecer o básico.
A pergunta que fica é: quem realmente ganha com isso? A população em geral, que pouco ou nada vê do tal “impacto positivo” dos torneios, ou uma pequena parte da cidade que já vive em condições muito distantes da realidade de quem mora na São Tomé, na Santa Isabel ou em Itapuã?
A crítica não é ao esporte em si e muito menos aos seus praticantes. Esporte é inclusão, é saúde, é lazer. Mas as ações e recursos públicos precisam ser direcionados para beneficiar o maior número possível de pessoas, e não um evento pontual ou interesses privados. O que a população espera dos deputados, prefeitos, vereadores são projetos sérios, que realmente tragam transformação. Beach tennis pode ser legal para quem tem acesso, mas o povo precisa de muito mais do que isso.
Guto Lopes
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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