Compartilhar a rotina de trabalho nas redes sociais não é algo novo. No entanto, uma área específica vem ganhando destaque: a de offshore, profissionais de diversos setores que atuam embarcados em plataformas marítimas de exploração de óleo e gás. São mais de 193 mil vídeos e cerca de 4 bilhões de visualizações somente no TikTok. Há comentários sobre salários, cursos e o balanço das plataformas em alto-mar.
Foi exatamente por esse interesse na área de offshore que a enfermeira Raisa Pedroso, de 33 anos, acumulou mais de 77 mil seguidores no TikTok. A maioria surgiu após a profissional publicar um vídeo em que mostrava o pôr do sol da plataforma em que trabalha.
Ela atua embarcada desde maio do ano passado. Antes disso, trabalhou por mais de dez anos em hospitais. A enfermeira fez vários cursos para ter um currículo apto para embarque. Além dos obrigatórios – como o básico de sobrevivência em plataforma e o escape de aeronaves submersas –, concluiu pós-graduação em enfermagem do trabalho, curso avançado de emergências cardiológicas e suporte avançado de trauma.
A primeira oportunidade foi uma vaga em uma empresa terceirizada de extração de gás natural localizada na Bacia de Campos, na costa do Rio de Janeiro, que presta serviço para a Petrobras. De imediato, gostou da experiência. “Gosto de adrenalina. Tenho perfil para isso, mas nem todas as pessoas têm.”
Embora a rotina compartilhada diariamente para milhares de pessoas desperte curiosidade, Raisa é cuidadosa em não romantizar a profissão. “Temos de ter um equilíbrio emocional enorme porque é um ambiente de risco. As pessoas acham que é um resort, um cruzeiro, mas a realidade é que a nossa carga de trabalho é pesada”, comenta.
A profissional cuida da parte ocupacional de todos os trabalhadores da plataforma – cerca de 190 pessoas –, que exercem funções críticas, seja em locais altos, seja mergulhando. Outra atribuição a bordo é a vigilância sanitária com relação ao condicionamento, preparo dos alimentos e inspeção da cozinha.
Jornada e renda
A jornada da enfermeira alcança 12 horas por dia. Ela passa 14 dias embarcada e outros 14 de folga, período em que ainda faz plantões em um hospital em Campos dos Goytacazes, no Rio.
O confinamento, segundo ela, é o maior desafio. Fora do expediente, ela tenta usar os espaços comuns do navio, como karaokê, sala de cinema e indo à “noite do churrasco”.
Apesar dos contrapontos, Raisa pretende galgar outros cargos no setor offshore. O quesito financeiro é um dos atrativos. Ela recebe 40% acima da média salarial de profissionais de enfermagem que atuam no setor hospitalar. A remuneração para enfermeiros offshore varia de R$ 5 mil a R$ 15 mil, segundo a profissional.
Inspiração no pai
No caso do engenheiro mecânico Darlisson Ferreira, de 35 anos, a vontade de embarcar foi, de certa forma, incentivada pelo pai, que atuou na década de 80 em plataformas de petróleo e gás. “O que realmente me atraiu foram as histórias da família”, relata o profissional, que soma oito anos embarcado. Nos últimos dois anos, desempenha a função de operador de produção em uma plataforma de extração de petróleo localizada na Bacia de Campos.
Assim como Raisa, o engenheiro tem jornada de 12 horas, em regime 14/14 (trabalha 14 dias e folga 14). “Acompanho as variáveis do processo (de extração da plataforma). No meu dia a dia, tenho uma prancheta que reúne vários equipamentos. Tenho de passar na minha planta inteira e checar os parâmetros de temperatura e pressão.”
O cotidiano em terra firme também não é tão simples. Adequar-se a uma nova rotina a cada duas semanas demanda do engenheiro uma certa disciplina para não ficar ocioso durante a folga. Ele busca ler, passear com os cachorros e ficar com a família. “No geral, em dias de semana, fico um pouco ansioso, porque as pessoas estão nas suas rotinas normais.”
Na visão de Andrea Torres, analista de RH de uma multinacional de óleo e gás, a procura por profissionais voltou a crescer no fim de 2021. Um dos motivos são os novos contratos gerados pela Petrobras, segundo Andrea. Ela avalia que o mercado deve se manter aquecido neste ano. “Temos mais de dez navios de produção de petróleo para a Petrobras contratar até 2030. Mas não temos no mercado profissionais capacitados do jeito que precisamos em navios mais novos, com tecnologias diferentes.”
Segundo a analista, o mercado de offshore vivencia um momento “de leilão de salários”, já que os profissionais que detêm as competências exigidas estão sendo mais disputados.
A maioria dos cargos não exige graduação superior. Basta ter um nível técnico e investir nos cursos voltados para determinada área e os obrigatórios. A média salarial para cargos iniciais gira em torno de R$ 4 mil a depender do cargo.
Além do LinkedIn, as vagas para offshore também podem ser encontradas nos sites de emprego Glassdoor, Indeed e Salarios.com.