Os vídeos da delação de Joesley Batista, dono de um conglomerado de empresas que inclui a maior processadora de carne animal do mundo, a JBS, mostram um executivo com jeito de matuto e cometendo erros de português. Se, à primeira vista, seu jeito parece estratégia de quem se faz de bobo para, no fim, ganhar alguma coisa, quem se aproxima vê que não se trata de postura forjada, e que a simplicidade está nos hábitos e nos gestos mais cotidianos, apesar da vida de luxo que leva.
Joesley guarda no escritório um caderno de ideias que considera interessantes, espécie de guia com tópicos sobre governança e filosofia de vida. São anotações banais, aparentemente sem sentido, como: “ninguém tem culpa da sua falta de tempo”, “pense no que precisa parar de fazer”, “tempo é uma questão de prioridade”, “felicidade é uma fórmula matemática, igual realidade sobre expectativa”, “acenda as luzes”.
Até que a vida fosse revirada por causa da Operação Lava-Jato, Joesley acordava e o primeiro compromisso era um café da manhã de trabalho. O almoço é de trabalho, o jantar idem. Os amigos era todos da firma. Para ele, tudo sempre foi questão de foco.
Assim ocorreu quando percebeu que precisava de provas de fato contundentes sobre corrupção e dirigiu o próprio carro até o Palácio do Jaburu, onde se encontrou e gravou Michel Temer. Também foi assim quando viu a jornalista Ticiana Villas Boas, apresentadora de televisão, mediando um debate para empresários, em 2012. Estava separado da mãe de seus três primeiros filhos. Sentou ao lado da jornalista e lançou um papo reto:
“Moça, você é bonita demais, o que você faz?”. Conseguiu um e-mail. As conversas se alongaram. Meses depois, Ticiana passava férias com a prima em Machu Picchu, no Peru e, ao receber uma ligação de Joesley, abandou a viagem e foi encontrá-lo na Sardenha, na Itália. Nunca mais se separaram. (AG)