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Vídeo de 2022 mostra o então presidente Jair Bolsonaro dizendo a ministros que não pode esperar o resultado da eleição para agir. Defesa diz que ele nunca pensou em golpe

Reunião de Bolsonaro com embaixadores ocorreu dias depois de encontro filmado em vídeo apreendido pela PF. (Foto: Reprodução)

O vídeo da reunião em que Jair Bolsonaro e seus então ministros discutem o que fazer para impedir a eleição de Lula em 2022 é mais um elemento que reforça as suspeitas da Polícia Federal (PF) de que o ex-presidente participou, sim, da organização de uma tentativa de golpe para se manter no poder.

Além da gravação, apreendida no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF colheu outros elementos que colocam o ex-presidente no centro da trama golpista.

A PF descobriu, por exemplo, a gravação de uma reunião, em julho de 2022, em que Bolsonaro convoca seus ministros para discutir estratégias que evitassem derrota nas eleições. Àquela altura, Bolsonaro prevê que poderia perder a disputa e pede para os ministros acionarem “o plano B”.

No vídeo, tornado público nesta sexta (9), Bolsonaro diz aos ministros que é preciso fazer “alguma coisa antes” do pleito. O ex-presidente considera que vai perder as eleições e cobra atitude dos aliados.

“Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp… [ele não conclui a palavra ‘impresso’] e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que… Eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, afirma o então presidente.

Bolsonaro também conclama os aliados a partirem para o “plano B”.

“Só pra gente prestar atenção. […] A fotografia que pintar no dia 2 de outubro [dia da eleição], acabou, porra! Quer mais claro do que isso? Nós estamos fazendo a coisa certa, mas o plano B, tem que botar em prática agora”, afirmou Bolsonaro.

“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, diz Bolsonaro.

Em outro trecho, também em referência às eleições, Bolsonaro cobra ações dos ministros.

“Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal. Vai pra puta que o pariu, porra. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe. Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo. Nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”.

O que diz Bolsonaro

A defesa do ex-presidente disse que Jair Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.

Os advogados afirmaram que o documento de cunho golpista encontrado no gabinete de Bolsonaro havia sido impresso para que ele “pudesse tomar conhecimento” de materiais mencionados na investigação da Polícia Federal.

“O ex-presidente — desconhecendo o conteúdo de tais minutas — solicitou ao seu advogado criminalista, Dr. Paulo Amador da Cunha Bueno, que as encaminhasse em seu aplicativo de mensagens, para que pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos”

“A impressão provavelmente permaneceu no local da diligência de busca e apreensão havida na data de hoje, que alcançou inclusive o gabinete do ex-presidente, razão porque lá foi apreendido”, acrescentaram

Em nota, a defesa também criticou a medida, determinada por Alexandre de Moraes, que apreendeu o passaporte do ex-presidente. Segundo eles, a determinação foi “absolutamente desnecessária”. As informações são do portal de notícias G1.

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