Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2023
Uma sequência de vídeos e fotos dos ataques às sedes dos poderes em Brasília pôs em dúvida o profissionalismo dos policiais mais bem pagos do País e dos militares das Forças Armadas. A invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, no dia 8, expôs falhas em órgãos como a Polícia Militar, as polícias legislativas da Câmara e do Senado, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência e o Batalhão da Guarda Presidencial, unidade do Exército.
Entre as suspeitas levantadas está a possível atuação ou omissão por conveniência ideológica e simpatia à intenção intervencionista da marcha, que irrompeu com facilidade a barreira, feita de material plástico, montada pela PM no acesso ao Congresso. Os policiais não portavam equipamentos para reagir a distúrbios. Não havia efetivo do Choque e da Cavalaria na retaguarda. A horda invadiu os palácios sem resistência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou público que “perdeu a confiança” em militares da ativa, a ponto excluí-los da função de ajudante de ordens, uma posição no círculo próximo de assessores. Lula acusou a “conivência” de “muita gente” da Polícia Militar e das Forças Armadas no Planalto.
Ele disse estar convencido de que a porta principal do palácio, por não ter sido quebrada, teria sido deixada aberta para facilitar a invasão. Reclamou que caravanas de extremistas puderam entrar em Brasília e desembarcar pessoas com intenções golpistas, partidárias do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que a Polícia do Exército posicionou, de forma inédita, dois blindados para “proteger” o acampamento em frente ao Quartel-General, o que retardou prisões e permitiu fugas na madrugada.
Inteligência
O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro – com quem rompeu logo no início –, diz que os erros de domingo são evidentes e levanta a possibilidade de que as trocas no governo federal e distrital, na primeira semana de gestão, tenham rompido a cadeia de relações para compartilhamento de informações de inteligência. “Se for comprovado que alguém agiu mal para facilitar, porque está de acordo com as ações, é crime. Se houver comprovação de que algum policial ou militar fez corpo mole por preferência política é absurdo. Se influiu na conduta, é uma conivência inaceitável”, afirmou.
Um coronel da reserva acostumado a lidar com protestos avaliou que “parece que houve uma lavagem cerebral” na PM. Ele viu indícios de “cooptação” pelo ideário do bolsonarismo. A PM agiu de forma “estranha”, segundo ele, abandonado os parâmetros de segurança e assumindo riscos.
Inquéritos
Os episódios vão ser apurados em diferentes frentes. Houve abertura de inquéritos pela Polícia Federal, pela Polícia Civil e de IPMs (Inquérito Policial Militar) na PM e no Exército. “A Corregedoria da Polícia Militar já instaurou 4 inquéritos para apurar a conduta inadequada de agentes da lei no último dia 8. As investigações estão apenas começando. Vamos às últimas consequências. Vamos separar o joio do trigo. A lei será cumprida”, disse o interventor federal Ricardo Capelli.
A Procuradoria da República no DF abriu procedimento preliminar para apurar se a Polícia Militar facilitou os crimes.
Entre os atos sob investigação, estão:
1. A escolta da marcha intervencionista, pela PM, até o local dos crimes, no momento em que a cúpula da secretaria de segurança local dizia as intenções eram pacíficas;
2. A falta de resistência das polícias militar e legislativa, que recuaram em investidas dos extremistas e abriram passagem no gramado e na chapelaria do Congresso;
3. O abandono de posto em barreira por parte de alguns policiais para comprar água de coco;
4. Os flagrantes de confraternização entre extremistas e policiais militares e legislativos — alguns posaram para fotos e outros filmaram os atos, sem agir para impedir crimes;
5. Reforço do Choque do BGP dispensado 20 horas antes;
6. A fuga não explicada da extremista Ana Priscila Azevedo, detida entre militares do BGP no Planalto, ela sairia do palácio e seria presa por ordem do Supremo dois dias depois;
7. A desorientação de soldados desalinhados na defesa do BPG na entrada do Planalto;
8. Troca de acusações e bate-boca entre PMs da Patamo (Patrulhamento Tático Móvel) e o comandante do Batalhão de Guarda Presidencial.