Sábado, 29 de março de 2025
Por Redação O Sul | 26 de março de 2025
As gravações exibidas no STF reprisaram os ataques à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022
Foto: Bruno Peres/Agência BrasilA exibição dos vídeos dos ataques do 8 de Janeiro no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), adotada pelo ministro Alexandre de Moraes no segundo dia do julgamento que deve acatar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro e outros sete arrolados na trama golpista, repete a estratégia usada num comitê do Congresso dos Estados Unidos que apurou a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, instigada por Donald Trump.
As gravações exibidas no STF reprisaram os ataques à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022, horas após a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passaram pela tentativa de explosão de um caminhão-bomba nas cercanias do aeroporto de Brasília na véspera do Natal daquele mesmo ano e culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, já após a posse de Lula.
“Temos a tendência de ir esquecendo”, justificou Moraes antes de exibir o vídeo de cinco minutos.
“A materialidade exige violência ou grave ameaça e aqueles que se esqueceram, de boa ou má-fé, que houve violência gravíssima contra pessoas vão se recordar agora.”
No comitê americano, que tem função semelhante à das comissões parlamentares de inquérito (CPI) brasileiras, foram exibidos em diversas sessões vídeos que faziam a reconstrução cronológica da turba de apoiadores de Trump que tomaram a sede do Congresso americano enquanto senadores confirmavam a vitória do democrata Joe Biden contra o republicano.
Na época, Trump se recusou a aceitar a derrota nas urnas e alardeou, sem provas, uma fraude eleitoral sem precedentes. No dia em que o Senado confirmaria o resultado do colégio eleitoral, uma mera formalidade no rito político dos EUA, o então presidente derrotado pressionou seu vice, Mike Pence, a sabotar a votação – pela Constituição americana, Pence presidiria a sessão que confirmaria a vitória de Biden.
Durante o discurso em um comício nas cercanias do Congresso, Trump conclamou seus apoiadores a “marcharem” até o Capitólio e alertou: “Se vocês não lutarem até o fim, nós não teremos mais um país”.
Diferentemente do que houve no STF, onde os vídeos foram usados para que se relembrasse e reforçasse a gravidade dos ataques que redundaram no 8 de Janeiro, no comitê americano a função dos vídeos era revisitar os fatos para poder atribuir responsabilidades aos acusados pelos ataques.
Centenas de horas de gravações foram analisadas pelo colegiado ao longo de suas audiências públicas. O trabalho final revelou em detalhes o passo a passo dos golpistas, desde o avanço sobre a esplanada do Capitólio, a ruptura de bloqueios e ataques violentos contra policiais até a invasão do edifício centenário que é um dos principais símbolos da capital americana, Washington, D.C.
O comitê da Câmara dos EUA concluiu que os trumpistas chegaram bem perto do vice-presidente de Trump. Invasores, vários deles armados, gritavam “enforquem Pence!”. Um grupo também chegou perto do plenário do Senado, mas foi despistado por um agente do Capitólio.
Após os parlamentares serem escoltados através de corredores secretos do edifício, apoiadores de Trump invadiram os plenários da Câmara e do Senado. O presidente derrotado se recusou durante horas a mobilizar forças policiais e a conclamar seus seguidores a abandonar o Congresso, e só o fez após forte pressão política e militar.
O relatório final do comitê, apresentado em 2022, responsabilizou individualmente Donald Trump pela invasão ao Capitólio. No ano anterior, o ex-presidente sofreu impeachment por insurreição, mas foi absolvido no Senado.
Reeleito em 2024, Trump perdoou os condenados pelo 6 de janeiro após tomar posse e tem retaliado integrantes do comitê, inclusive a correligionária Liz Cheney, vice-presidente do colegiado que se tornou uma das principais críticas do trumpismo no Partido Republicano e apoiou Kamala Harris nas últimas eleições.
No Brasil, a celeridade do julgamento de Bolsonaro no STF tem como subtexto um esforço para evitar justamente o cenário de revanchismo político nos EUA após o retorno de Trump à Casa Branca.
Nos bastidores de Brasília tanto bolsonaristas quanto apoiadores do governo Lula não têm dúvidas de que Moraes e aliados na Primeira Turma do STF trabalham para frear a ofensiva da direita por uma anistia ampla ao 8 de Janeiro e manter o ex-presidente, inelegível até 2030, fora das urnas no ano que vem. As informações são da Bela Megale, no portal de notícias O Globo.