O craque Vinicius Jr. voltou aos gramados do estádio Santiago Bernabéu, em Madri, não apenas para disputar uma partida de futebol pela Seleção. O amistoso contra a Espanha, no estádio de seu clube, o Real Madrid, coincidiu com as dificuldades enfrentadas pelo jovem atleta, perseguido por racistas que aproveitam os jogos do campeonato espanhol para agredi-lo pela cor da pele.
Dirigentes brasileiros e espanhóis procuraram transformar o jogo — que terminou empatado em 3 a 3 — em um ato contra a discriminação racial, sob o lema “uma só pele”. Outro gesto de apoio ao atleta ocorreu em outubro, na cerimônia de entrega da Bola de Ouro, quando Vini Jr. recebeu o prêmio Sócrates pela resistência antirracista.
Mas o enfrentamento do racismo na Espanha, infelizmente, precisa de algo além das ações de conscientização. É verdade que não falta apoio do Real Madrid, que homenageou Vini Jr. no Santiago Bernabéu depois dos pesados ataques que sofreu em maio do ano passado, num jogo em Valencia. O choro dele, ao abordar a questão do racismo em entrevista na véspera do amistoso, comprova seu estado de tensão.
Embora continue mantendo alto nível de jogo, a perseguição que lhe movem das arquibancadas espanholas cobra um preço emocional incalculável. Ele afirmou estar “cada vez mais triste” e ter menos vontade de jogar. Mas não sairá da Espanha. “Se saio daqui, dou aos racistas o que eles querem”. Na sua visão, a Liga Espanhola (LaLiga) tem evoluído no tema do racismo, mas ele considera que as leis ainda deixam a desejar.
É difícil aceitar que clubes importantes da Espanha não possam se unir para enfrentar com punições duras os times que abrigam torcedores racistas. No último Campeonato Brasileiro, o Corinthians teve de fazer um jogo em seu estádio vazio, como punição pelos cânticos homofóbicos da torcida num clássico contra o São Paulo (pelas estimativas, o clube perdeu receitas de R$ 1,5 milhão). A punição já constava das normas do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, mas foi preciso que a Confederação Brasileira de Futebol decidisse endurecer contra os crimes de homofobia, racismo e xenofobia para que fosse cumprida.
LaLiga poderia seguir o exemplo e endurecer as punições. Infelizmente, os clubes espanhóis têm sido lenientes. Até agora, houve mais de dez denúncias de atos racistas contra Vini Jr. Ainda não houve punição. Em maio do ano passado, a polícia espanhola deteve sete suspeitos de cometer injúrias raciais contra o brasileiro. Três foram liberados depois de prestar depoimento, e não há notícia de condenação contra os demais.
A revolta justa dos atletas contra o racismo tem feito parte dos esportes ao longo de décadas. Vini Jr., entre lágrimas, disse que só quer jogar futebol, fazer tudo pelo seu clube e sua família. Tem sido forçado a ir além. Ao ser substituído no segundo tempo do empate entre Brasil e Espanha, foi aplaudido efusivamente no Santiago Bernabéu. Conforta, mas não resolve. Ele precisa de mais apoio nessa luta. (Opinião – Jornal O Globo)