Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 2 de janeiro de 2022
Em 2002, milhões de europeus de 12 países abdicaram de suas moedas nacionais para implementar o euro, visto então como um potencial rival para o dólar. Vinte anos depois, a moeda única europeia ainda não venceu a briga, e a divisa americana comanda o mercado internacional.
Há cerca de US$ 2,1 trilhões em circulação, e 60% das reservas cambiais de bancos centrais de todo o mundo estão em dólar, contra 20% do euro, segundo o Banco Central Europeu (BCE).
Apesar de não representar ameaça à moeda americana, o euro se mantém um concorrente respeitável e vai passar por mudança de layout nos próximos três anos para se aproximar dos europeus.
Modelo alemão
O euro é fruto de um compromisso acertado entre os dois grandes motores da União Europeia: a Alemanha decidiu abdicar do poderoso marco como sinal de reconhecimento dos esforços da França durante o processo de reunificação alemã, após a queda do Muro de Berlim.
No início, a nova moeda seguia a linha do extinto marco, em que a estabilidade e o controle da inflação eram as únicas prioridades. No entanto, o toque francês está em tornar o euro um líder internacional, o que não estava nas intenções da Alemanha, de acordo com Guntram Wolff, diretor do Bruegel, um think tank de Bruxelas.
“Quando o BCE começou a operar, fez isso seguindo o modelo do Bundesbank (o BC alemão), o que significa, basicamente, ser neutro nessa questão”, acrescentou Wolff.
O modelo começou a ruir perto de a moeda completar dez anos, na esteira da crise financeira global. Revelou-se o elevado endividamento de vários países-membros da UE, o que ameaçou enfraquecer o bloco — falou-se até na possibilidade da saída da Grécia.
Os esforços para controlar a turbulência se concentraram na figura da agora ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que garantiu inclusive a unidade do bloco e a estabilidade da moeda.
Trump
A tentativa de construir uma imagem do euro como instrumento de poder voltou à mesa quando Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, abandonou o acordo nuclear com o Irã, em 2018.
Empresas que investiam no país persa foram ameaçadas de sanções pelos EUA, e a UE tentou proteger os empreendimentos europeus das represálias.
O plano, no entanto, fracassou porque as empresas temeram confrontar Washington e o alcance do dólar. Lideranças do continente foram à Comissão Europeia para pedir a aplicação de medidas que evitem o uso da moeda americana como arma. Em janeiro, o órgão apresentou sugestões, mas ainda sem proposta de medida legislativa.
O fim do governo Trump enfraqueceu a tentativa do euro de conquistar proeminência internacional, segundo uma autoridade europeia a par do debate. Para ela, “quando se fala do papel internacional do euro, fala-se de tudo e de nada ao mesmo tempo.”
E a maior parte dos analistas concorda que a solução seria a emissão de títulos europeus para atrair investimentos, como faz o Tesouro americano desde a Segunda Guerra Mundial. A ferramenta foi usada como forma de captar ativos para a recuperação do continente pós-pandemia.
Isso, no entanto, pode gerar desequilíbrios no balanço interno do bloco já que países como Alemanha e Holanda temem pagar empréstimos que beneficiariam Estados endividados, como França, Espanha ou Grécia.
Para Wolff, do Instituto Bruegel, não se pode alegar que um Eurobônus “ajudaria”. O melhor para o euro, afirma ele, seria uma economia produtiva.
“Se você tiver uma economia dinâmica, o investimento internacional virá para a Europa, e isso vai fortalecer o euro como moeda”, pontua.
Repaginada
Enquanto isso, o BCE propôs, em dezembro, uma mudança no visual da moeda, a fim de aproximá-la da realidade de europeus de todas as idades e classes sociais.
O novo desenho deve ficar pronto nos próximos três anos, e os grupos de discussão vão reunir sugestões da população europeia sobre o tema geral das novas notas. Com isso, o euro terá a primeira repaginação desde sua criação, em 2002.
O design original, com janelas, portas e pontes de diversos estilos arquitetônicos, simboliza a união e a abertura, apesar de ser abstrato demais para ser associado a um ou outro país do bloco.
Por isso, o grupo de trabalho conta com especialistas de cada país da zona do euro para fazer uma lista de temas a ser enviada ao Conselho do BCE. Depois de aprovado no órgão e por consulta pública, o BC europeu tomará a decisão final em 2024.