Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de janeiro de 2024
Ao olhar para o perfil das vítimas de violência, os dados indicam que a população negra é a mais impactada.
Foto: ReproduçãoJaneiro é considerado o mês de conscientização sobre a saúde mental e também marca o período de reflexões sobre a importância da visibilidade trans. Dois temas que estão intimamente relacionados. Segundo o Atlas da Violência de 2023, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com dados de 2020 e 2021, houve um aumento de 9,5% na violência física e de 20,4% na violência psicológica contra esse grupo no Brasil nos últimos anos.
Ao olhar para o perfil das vítimas de violência, os dados indicam que a população negra é a mais impactada. Entre mulheres trans: Negras: 58%, Brancas: 35%. Entre homens trans: Negros: 56% e Brancos: 40%. Entre travestis: Negras: 65% e Brancas: 31%.
Para Jovanna Baby, um dos principais expoentes do movimento trans no Brasil e fundadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FonaTrans), é fundamental olhar para a questão da raça ao falar sobre violência contra pessoas trans. “Dados mostram que mais de 78% da população trans brasileira é preta”, comenta. “E, dos casos de transfeminicídio no Brasil, a maioria tem o recorte racial”, afirma.
Violências
O advogado Júlio Mota, pós-graduado em Processo Civil pela PUC-Minas e em Relações de Gênero e Sexualidade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), observa que vários tipos de agressões estão presentes na vida de uma pessoa trans – vão desde o desrespeito ao nome social ou à identidade de gênero até à recusa de empregá-la por ser transexual ou travesti.
“A discriminação está em todos os contextos: familiar, profissional, escolar. E tudo isso contribui para que pessoas trans sejam colocadas à margem da sociedade sem conseguir, inclusive, acessar direitos básicos”, ressalta o advogado, que também é fundador do Transtornados, o primeiro time de homens trans e pessoas não binárias de Juiz de Fora (MG).
Para Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), muitas vezes o adoecimento mental dessa população começa dentro de casa, entre a família – e a religião costuma ser o pano de fundo.
“Grupos que poderiam pregar que a religião é o amor, o perdão e a compaixão, não fazem isso. Eles atacam diretamente as pessoas dentro das suas individualidades”, afirma. Todo esse cenário contribui para a solidão e o isolamento dessa população.
Repercussão na saúde
A transfobia – como é chamada a gama de comportamentos discriminatórios contra quem é trans – tem um impacto importante na saúde dessas pessoas. O primeiro ponto de atenção diz respeito ao bem-estar emocional.
“A transfobia adoece e mata e há uma insuficiência de dados acerca de nossa população no que se refere à saúde. Devido aos processos de exclusão e preconceito, como acontece com todas as minorias, a saúde mental de nossa população é extremamente afetada”, analisa Sayonara Nogueira, secretária de comunicação da Rede Trans Brasil.