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Mundo Violino coloca em xeque acordo histórico na Alemanha sobre bens tomados por nazistas

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Felix Hildesheimer, ao piano, e sua filha mais nova, Elsbeth, em meados da década de 1930. (Foto: Reprodução)

Ninguém sabe o motivo pelo qual Felix Hildesheimer, um negociante judeu de artigos musicais, comprou um precioso violino construído pelo mestre luthier Giuseppe Guarneri em uma loja em Stuttgart, na Alemanha, em janeiro de 1938. Seus netos dizem que é possível que ele tivesse a esperança de vender o instrumento na Austrália, onde planejava, com a mulher, Helena, e a filha caçula, Elsbeth, construir uma nova vida.

Mas a tentativa do casal de conseguir um visto falhou e Hildesheimer se matou em agosto de 1939. Mais de 80 anos depois, seu violino de três séculos – que vale cerca de US$ 185 mil – está no centro de uma disputa que ameaça minar o compromisso da Alemanha de devolver os objetos roubados pelos nazistas.

O órgão governamental que rege a devolução de propriedades culturais saqueadas pelos nazistas determinou em 2016 que o violino provavelmente foi vendido por Hildesheimer sob coação ou levado por nazistas após sua morte. No primeiro caso que envolve um instrumento musical, a comissão recomendou que o atual proprietário do violino, a Fundação Franz Hofmann e Sophie Hagemann, uma organização de ensino musical, deveria pagar aos netos do negociante uma indenização de € 100 mil (cerca de US$ 121 mil). Em troca, a escola poderia ficar com o instrumento, e emprestá-lo a alunos talentosos.

Decisão questionada

Mas a fundação está se negando a pagar. Após alegar primeiramente que não conseguiria levantar o dinheiro, ela agora questiona a decisão do comitê. Em uma nota enviada no dia 20 de janeiro, a escola diz que “informações atuais” sugerem que Hildesheimer não foi forçado a desistir de seu negócio até 1939, e não 1937, como previamente entendido. Então, segue a nota, “devemos supor que o violino foi vendido normalmente como um produto em sua loja de música”.

Na semana passada, a Comissão Consultiva do governo alemão perdeu a paciência e soltou uma declaração pública que visava aumentar a pressão sobre a Fundação Hagemann para que esta cumprisse a recomendação. “Ambos os lados aceitaram essa solução como justa”, diz o comunicado, acusando a escola de não mostrar “um compromisso sério em cumprir a recomendação da comissão”. A tentativa de contestar a decisão – quatro anos após sentenciada – significa que “a fundação não está apenas infringindo os princípios existentes sobre a restituição da arte saqueada pelos nazistas”, disse o painel, “mas também está ignorando fatos aceitos sobre a vida na Alemanha nazista”.

A recusa da fundação em pagar coloca em risco o sistema criado há quase duas décadas para lidar com reivindicações de artes saqueadas pelos nazistas e que já levou à restituição de obras de museus públicos e, em 2019, de duas pinturas da coleção de arte do próprio governo alemão.

Legisladores criaram esse comitê em 2003, após a Alemanha endossar, em 1998, um acordo que exigia soluções justas para os proprietários de arte do pré-guerra e seus herdeiros, cujas obras foram confiscadas pelos nazistas. As famílias de judeus com pertences expropriados raramente conseguem recuperar, nos tribunais alemães, bens culturais roubados, por conta de estatutos e regras que protegem compradores “de boa-fé”. Então a Comissão Consultiva, que arbitra entre as vítimas e os detentores de propriedade cultural em disputa, muitas vezes é o único recurso dos herdeiros.

Por outro lado, a comissão não é exatamente um tribunal e não tem poderes legais para fazer cumprir suas recomendações, como explica Hans-Jürgen Papier, presidente do painel e ex-presidente do Tribunal Constitucional da Alemanha: “Até agora, temos contado com instituições públicas que se submeteram aos processos da comissão e implementaram nossas recomendações. Se isso não funcionar mais, é inaceitável”.

Reaparecimento em Colônia

Após a compra de Hildesheimer, o violino de Guarneri ficou desaparecido até 1974, quando ressurgiu numa loja na cidade de Colônia, e foi comprado pela violinista Sophie Hagemann. Ela morreu em 2010, e o instrumento ficou com a fundação que Hagemann havia criado para promover o trabalho de seu marido compositor e apoiar jovens músicos.

Foi a Fundação Hagemann que começou a investigar o passado do instrumento após a morte de Sophie. Ao observar a lacuna de 1938 a 1974, a escola registrou o instrumento em um banco de dados do governo alemão de bens culturais saqueados pelos nazistas, na esperança de encontrar mais informações sobre a família Hildesheimer. Um jornalista americano achou os herdeiros, e a fundação concordou em enviar o caso à Comissão.

Quando comitê decretou, em 2016, que o violino provavelmente fora tomado ilegalmente, a fundação aceitou os termos do acordo e prometeu que os estudantes que pegassem o violino emprestado dariam concertos regulares em memória de Hildesheimer.

Mas o comunicado da semana passada da Comissão Consultiva aponta não ter detectado uma “vontade séria” por parte da fundação de arrecadar os € 100 mil. O presidente da Hagemann, Fabian Kern, recusou o pedido de entrevista, mas disse em nota que a escola tem “feito incontáveis esforços ao longo de vários anos para implementar a recomendação da comissão”.

Herdeiros tentam ajudar

David Sand, neto de Hildesheimer que mora na Califórnia, disse por telefone que a família tem sido “muito receptiva, e até ofereceu ajuda à fundação para arrecadar fundos por meio de trocas de e-mails nos últimos quatro anos: “Se a comissão pode ser desafiada sem consequências, não vejo como esses casos poderão ser tratados no futuro”.

Papier, presidente da comissão, disse que esperava que a decisão de levar o caso à mídia aumentasse a conscientização entre políticos e o público sobre as questões em jogo. Embora a Hagemann seja uma entidade privada, ela tem ligações estreitas com a Universidade de Música de Nuremberg, que pertence ao estado alemão da Baviera, disse ele.

Ele afirmou que já procurou o apoio do governo da Baviera, “mas no final nada aconteceu”.

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https://www.osul.com.br/violino-coloca-em-xeque-acordo-historico-na-alemanha-sobre-bens-tomados-por-nazistas/ Violino coloca em xeque acordo histórico na Alemanha sobre bens tomados por nazistas 2021-01-28
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