Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2024
A pouco mais de seis meses para o fim do mandato de Gleisi Hoffmann na presidência do PT, o partido já se encaminha para assegurar um nome de perfil diferente no comando da legenda. Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP), ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), tem angariado cada vez mais apoio interno e deve ser a nova cara da sigla. A alternância deve significar uma guinada para atrair forças políticas de centro para o projeto de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Também pode marcar uma mudança de rota no ímpeto de petistas em polarizar o debate político com Jair Bolsonaro.
Após sete anos no comando, Gleisi agora vê sua gestão ser questionada. A inflexão ocorre após obter o apoio de Lula em sucessivas eleições, a maioria delas sem disputa interna relevante. A petista esteve à frente do PT em momentos delicados, como no auge da Lava-Jato e na prisão, soltura e terceira vitória do presidente no pleito de 2022.
O nome de Edinho como sucessor tem sido construído à revelia da atual presidente do PT. A escolha só será feita pelos filiados ao fim do mandato de Gleisi, em julho de 2025, mas uma articulação chegou a ocorrer para antecipar o fim de sua gestão.
Procurados, tanto Edinho quanto Gleisi não quiseram se manifestar sobre o processo de sucessão.
Entre os apoiadores de Edinho estão os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Fernando Haddad (Fazenda) e o ex-presidente do PT José Dirceu, que tem ensaiado um retorno à vida pública. Edinho também tem mais diálogo com a velha-guarda petista, afastada nos últimos anos por escândalos de corrupção.
Em entrevista à colunista do Jornal O Globo Malu Gaspar, Edinho afirmou que o PT deveria ouvir mais nomes como o do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini.
O deputado estadual Emídio Souza (PT-SP), que é próximo de Lula e apoiador do prefeito de Araraquara como presidente do PT, disse que a legenda precisa dar uma guinada.
“As coisas vão convergindo aos poucos para o Edinho, mas o decisivo disso é o presidente (Lula). Na hora que ele falar (define a disputa).”
Emídio avalia que é preciso que o partido seja “mais aberto” e “menos dogmático” do que é atualmente. Ele diz que Gleisi teve um “papel importante”, mas que neste momento é preciso ter mais diálogo para “reposicionar o PT em vários temas”.
Em nota divulgada no último dia 11, o deputado estadual reclamou do fato de a direção nacional do PT ter assinado uma carta contra o pacote de ajuste fiscal em elaboração pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em resposta, Gleisi disse nas redes que o texto é “contra as pressões do mercado” e não contra a equipe econômica do governo.
Mesmo antes de assumir o cargo, Edinho já tem apontado que a legenda precisa fazer uma correção de rumos. Logo após o segundo turno das eleições municipais, o prefeito divulgou para os colegas de partido um texto com recomendações de mudanças no perfil da sigla. A carta foi originalmente feita para o diretório petista de Araraquara, mas Edinho escreve que ela também “pode contribuir para a análise nacional”.
Entre as sugestões, o prefeito disse que é preciso que o PT pare de estimular a polarização. “Mesmo com a vitória de 22, com a retomada do nosso projeto com o governo Lula 3, não conseguimos sair da dinâmica da polarização. Ao contrário, muitas vezes a alimentamos, sendo arrastados para debates que só interessam para a direita fascista organizada no país”, disse o prefeito no texto
O ponto relativo à polarização provocou incômodo em parte do PT, que avalia como equivocada a análise.
“Eu adoraria que a gente vivesse sem polarização, mas como é que acaba com isso? Em um passe de mágica? Não. A gente tem que fazer o enfrentamento e a disputa contra a extrema direita”, disse o deputado Lindbergh Farias, que vai liderar o PT na Câmara no ano que vem
A avaliação, tanto no grupo que prefere moderar o discurso do PT, representado por Edinho, como a ala que quer continuar com um perfil combativo, da qual fazem parte Gleisi e a maioria dos deputados federais da legenda, é que, mesmo se houver disputa pelo comando no final de junho, a tendência é que haja uma unificação no cenário pós-escolha.
Mesmo entre aqueles que desejam mudanças no perfil da direção do partido, há a avaliação de que Gleisi precisa ter um papel relevante em sua sucessão. O entendimento geral é que o PT é um partido grande, com várias tendências internas e que é normal haver disputa e pensamentos diferentes.
Como ex-ministro da Secom, Edinho terá a missão de melhorar a comunicação do partido com a população e atrair setores resistentes à sigla, como evangélicos, parte da classe média e o agronegócio.
Diferentemente de Gleisi, que tem um estilo mais combativo e chegou a trocar farpas com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de nomes do Centrão, Edinho tem perfil com mais entrada para diálogo com a oposição. As informações são do jornal O Globo.