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Por Redação O Sul | 27 de agosto de 2016
Três da madrugada. As horas se passam no relógio, e Roberta Medon Rangel, 23 anos, não consegue dormir. Esta já é sua terceira noite seguida em claro, e a falta de sono por tanto tempo cobra seu preço. Ela sente dores de cabeça e no rosto, além de muita fadiga, mas ainda assim o necessário descanso continua sendo um sonho distante, enquanto os segundos correm, aumentando a ansiedade. “Achei que estava ficando louca e fui para a emergência de um hospital”, lembra Roberta. “Lá, recebi uma injeção que pareceu não adiantar muito, mas depois, finalmente, consegui dormir”.
Aquela não foi a primeira vez em que a estudante enfrentou a insônia. Em outras ocasiões, ela aproveitava as noites em claro para ler, adiantar os estudos ou ver filmes na TV. Há cerca de cinco anos, quando ainda estava no segundo ano do ensino médio, Roberta mudou o turno de estudos da tarde para a manhã e passou a se sentir pressionada para decidir sobre o seu futuro profissional. “Eu só conseguia dormir às 6h, justamente o horário em que devia estar levantando para ir para a escola”, conta.
Pesquisas recentes indicam que quase 70% dos adultos reclamam de algum tipo de dificuldade para pegar no sono ou dormir o suficiente pelo menos uma vez por mês, e o problema afeta mais mulheres e idosos. Outros levantamentos internacionais mostram que de 30% a 48% da população em geral relatam problemas constantes relacionados à falta de sono. Destas, de 9% a 15% encaram consequências disso durante o dia, como fadiga, dificuldades de concentração e sono fora de hora, enquanto que de 8% a 18% se dizem insatisfeitas com a qualidade ou quantidade do descanso obtido. Por fim, de 6% a 10% não dormem, ou conseguem dormir muito pouco, três ou mais noites por semana durante ao menos três meses, apesar de terem oportunidade e ambiente para tanto – caracterizando um quadro de insônia crônica.
Hoje, de volta ao tratamento e com ajuda de remédios, Roberta tem um sono um pouco mais regular, embora eventualmente ainda passe noites em claro, durante as quais continua a se distrair lendo ou vendo TV.
Fatores emocionais.
Segundo especialistas, os casos de insônia “pura” são muito raros. Em geral, o problema está associado ou é desencadeado por outros fatores. Destes, os mais comuns são emocionais, ligados a transtornos de humor como ansiedade e depressão. É o caso de Franklin Barreto, 69. Segundo ele, tudo começou com a separação em seu primeiro casamento, mas a situação se agravou a partir de 2014, com o término de outro relacionamento.
“Até então, eu tinha insônia e tomava remédios ocasionalmente, mas aí o problema ficou brabo mesmo”, relata. “Eu ia para a cama e tentava dormir, mas não conseguia. Cheguei a passar uma semana inteira sem dormir quase nada, dava apenas pequenos cochilos, acordava de madrugada e não pegava no sono de novo. Isso começou a prejudicar minha vida pessoal, eu ficava de mau humor e muito irritadiço, e então resolvi buscar ajuda.”
Diagnosticado, Barreto atualmente, dorme sete horas por noite, mas só com a ajuda dos remédios. Mesmo assim, é um alívio. “É bom voltar a dormir. Só quem tem insônia sabe o sofrimento que é. Nunca fiz um teste para saber se eu dormiria normalmente sem os remédios, mas acredito que não”, diz.
Diante dessa realidade, os especialistas destacam que fazer o paciente dormir é apenas a parte mais visível, e paradoxalmente mais fácil, do tratamento da insônia crônica. Segundo eles, sem atacar as causas subjacentes, como os transtornos de humor, não há saída.
“Botar o paciente para dormir é só a ponta do iceberg e a parte menos importante do tratamento”, ressalta o neurologista Andre Giorelli. “Para isso, pode-se usar medicações de vários tipos, mas nada disso adianta se não se tratar a causa da insônia, como a depressão ou a ansiedade. Para dormir e continuar dormindo bem, o paciente vai ter que abordar isso”. (AG)