Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2022
Porém, achar que os comportamentos do vizinho tornam a grama mais verde é o mais ultrapassado viralatismo nacional.
Foto: Reprodução/Twitter AFAO mundo do futebol costuma colocar a mesma régua para medir situações completamente distintas, mesmo que em comum muitas vezes só exista a bola com a qual se joga. É possível tratar a vaga da Argentina na final da Copa do Mundo diante da Croácia, adversária do Brasil na fase anterior, sem traçar paralelos estapafúrdios extracampo.
A ida dos hermanos para a decisão não tem nada a ver com dança do pombo e afins nas comemorações, com cabelos platinados ou com jogadores que comem carne folheada a ouro. Tem a ver com um plano tático escolhido pelo treinador, e em muitos momentos também com a sorte.
Se os argentinos não dançam tango, preferem penteados mais simples, ou fazem churrasco na concentração, trata-se de um traço cultural, no qual o futebol está inserido. E não é causa ou consequência do que se produz no campo. Ter uma torcida mais participativa, ídolos que vão para as arquibancadas, nada disso seria um impulso suficiente para a vitória consistente sobre a Croácia não fosse… a consistência em si da equipe.
Os movimentos coordenados por atletas escalados por Scaloni sem vaga cativa ao longo das partidas, a superação em campo depois de um início com adversidades, isso é o DNA da Argentina finalista e em algum momento dada como morta no Catar. O ressurgimento se deu com recuo estratégico, uma certa humildade, que talvez possa trazer alguma lição.
Mas querer que os jogadores brasileiros comemorem como os argentinos, cortem o cabelo como os argentinos, comam como os argentinos é querer projetar no outro uma identidade que não pertence às cores verde e amarela. Achar que os comportamentos do vizinho tornam a grama mais verde é o mais ultrapassado viralatismo nacional. Normalmente espelhado em referências da Europa, onde em tese se joga o jogo bonito, se veste a roupa bonita, onde o roteiro é mais caro do que comer empanada no bairro La Boca, região mais simplória de uma Argentina em frangalhos econômico, longe de Rosário, bairro de onde Messi saiu cedo para brilhar no Barcelona.
O mesmo Messi que teve uma jogada genial, é verdade, assim como teve Neymar diante da mesma Croácia. A diferença é que o brasileiro marcou com a bola rolando, e o argentino serviu o companheiro Julian Álvares na trama individual de mesmo nível. Além disso, aos 35 anos Messi conservou a bola, atraiu marcação, distribuiu o jogo. Mesmo participando em menos ações, foi mais efetivo que Neymar. Embora ambos tenham um comportamento semelhante de esperar a bola e marcar pouco no campo de ataque.
É que o Brasil também não teve Paredes, De Paul e Enzo Fernandéz no meio-campo. Não teve inteligência tática para entender que o adversário teria superioridade numérica no setor. A Argentina tratou de redimensioná-la e colocar uma lupa sobre o fracasso do Brasil. No campo.