Domingo, 13 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de abril de 2025
Foram necessários quase quatro anos para que Thales Bretas se sentisse apto e “saudável”, nas palavras dele, para mexer nos pertences mais íntimos de Paulo Gustavo. Desde a morte do ator e comediante — em maio de 2021, aos 42 anos, devido a complicações decorrentes de uma infecção por covid —, o médico dermatologista, viúvo do artista, mantinha totalmente intactos os objetos pessoais do marido em casa. Se tentasse abrir e vasculhar armários, guarda-roupas, gavetas, estantes e caixas, a tristeza logo o repelia. A solução, então, foi deixar tudo intocado.
“Nesse período, fiz de tudo para me anestesiar. E aí comecei a trabalhar demais e a me ocupar de atividades a fim de me distrair”, repassa Thales. “Só agora sinto que estou entrando em contato com a saudade e o luto de um modo que talvez me permita ressignificá-los. Evitei lidar com esses sentimentos… Na verdade, não pude! Não tive tempo para sofrer ou ficar saudoso e caído. Tenho dois filhos pequenos (Gael e Romeu, de 5 anos, frutos do casamento com o humorista) que precisam de mim com energia.”
A mágoa provocada pela perda ganhou uma nova forma — “mais saudosa e não tão dolorosa” — em 2024, depois de Thales passar seis meses sabáticos, junto às crianças, na casa da irmã e do sobrinho, no interior da Austrália. O principal motivo da empreitada no outro lado do mundo, como ele detalha, era afastar os filhos da permanente comoção coletiva em solo tupiniquim (“Queria que eles tivessem uma infância normal e saíssem para brincar nos parquinhos das ruas sem serem vítimas de pena”, explica).
A experiência foi transformadora. Tanto que, antes mesmo de voltar ao Brasil, Thales decidiu que era a hora de não só encarar de vez o acervo do marido, com quem viveu por sete anos, mas também de expô-lo aos fãs e admiradores. Não, não daria para fugir daquilo que o cercava — e que, a rigor, o constitui, como ele reconhece.
Paternidade solo
Thales Bretas avisa que está longe de ser artista. Médico em atividade, o viúvo de Paulo Gustavo dá seu jeito de arregaçar as mangas (com o “pouco conhecimento” que tem, como diz) para preservar o legado do marido. A seguir, ele fala sobre os filhos, Gael e Romeu, os males da exposição nas redes sociais e o longo processo de luto.
1) Gael e Romeu, os filhos que vocês tiveram juntos, falam muito sobre Paulo?
Num primeiro momento, meus filhos eram muito bebês e não entendiam as circunstâncias de adoecimento e morte. Hoje trago isso de uma forma mais natural e amorosa: sempre digo que eles são projetos de dois homens que se amaram muito e que tiveram o privilégio de gerá-los fora do país, com duas pessoas que se dispuseram a emprestar o útero da gestação solidária. E aí falo que o papai Paulo era um cara incrível, que realizou o sonho de ser pai, mas que ficou doente por causa de uma pandemia mundial.
2) E como eles reagem?
Eles entendem melhor. Os dois sabem que o pai era famoso, e que ainda é — até porque algumas pessoas ainda extravasam uma comoção ao encontrá-los. Os meninos dizem que a estrela mais brilhante do céu é o papai Paulo. Mas não falo excessivamente sobre isso. Falo à medida que sou solicitado. As crianças também precisam ter a forma de processar o luto da maneira delas.
3) Preocupa-se em não expô-los a esse mundo de fama?
Pois é, os dois são pequenos e não sabem o que é fama e como administrar isso. Mas ao mesmo tempo são “famosos” e vítimas da comoção. Então, evito mostrar o rosto deles. Isso estabelece um limite, e as pessoas passam a entender e a não pedir fotos nas ruas…
4) E como você lida com os julgamentos sobre sua vida nas redes sociais?
Seria hipócrita ao dizer que a opinião pública não me afeta. Algumas coisas me incomodam, pois é como se estivessem “medindo” o meu luto. Mas isso diz muito mais sobre as pessoas que estão falando do que sobre mim mesmo. Então, aprendi a lidar com isso.
5) Muitos parecem ter dificuldade de entender que sua vida precisa seguir, apesar da dor…
Exatamente. A maioria das pessoas tem carinho e quer me ver bem, feliz, amando de novo, me relacionando com alguém. Mas isso também não compete a ninguém em qual momento vai acontecer ou não. Para isso rolar, preciso estar me sentindo bem, apaixonado… São tantas variáveis! A única coisa que posso fazer é controlar minhas reações à opinião alheia. Tenho plena consciência de que fiz e faço tudo que acho que é certo dentro dos meus princípios. (Com informações do jornal O Globo)