A votação da emenda que retira o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) das mãos do ministro da Justiça, Sergio Moro, abriu uma crise no centrão, o conjunto de siglas coordenadas hoje pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Apesar de o grupo ter fechado acordo para derrotar Moro, o PSD de Gilberto Kassab votou em peso a favor do ministro de Bolsonaro – foram 30 votos a favor de manter o órgão na Justiça contra apenas 1 favorável à migração para a pasta da Economia, objetivo do centrão.
Moro acabou derrotado por estreita margem – 228 votos a 210 – na sessão realizada na noite desta quarta-feira (22). Os líderes do centrão esperavam uma vitória mais expressiva e dizem que o PSD rompeu o acordo em cima da hora.
Com isso, começaram logo depois da sessão a discutir possíveis retaliações, como a retirada de funções de relevo das mãos do partido, entre elas a relatoria do Orçamento de 2020, hoje a cargo do deputado Domingos Neto (PSD-CE). Não há consenso, porém, sobre se essas ameças serão levadas a cabo.
O Centrão é formado por legendas como o PP, PL, PTB, DEM, PSD e PRB. Juntas, têm mais de 200 dos 513 deputados. Apesar de não serem um bloco formal, têm agido de forma conjunta, sob o comando de Maia, sendo responsáveis por várias derrotas aplicadas ao governo de Jair Bolsonaro, que tem tido uma relação conflituosa com o Legislativo desde que tomou posse.
O jornal Folha de S.Paulo conversou com vários integrantes do centrão, inclusive parlamentares do PSD, tendo ouvido algumas versões para a atitude tomada pelo partido de forma quase unânime na noite desta quinta. Uma delas é a de que a legenda busca se dissociar do centrão, que tem grande desgaste na opinião pública por ter integrantes envolvidos nas investigações da Lava-Jato e por ter a imagem ligada a um modo de fazer política calcado no chamado toma lá, dá cá.
Outra versão dá conta que o partido de Kassab, ex-prefeito de São Paulo e ministro nas gestões Dilma Rousseff (2011-2016) e Michel Temer (2016-2018), buscou ficar ao lado de Moro para evitar desgaste público – há campanha nas redes segundo a qual só os corruptos querem tirar o Coaf de Moro – e por temer retaliações por parte do ministro da Justiça, a quem a Polícia Federal está subordinada.
O líder do PSD na Câmara, André de Paula (PE), afirmou que em nenhum momento fechou acordo com as demais siglas do centrão. Segundo ele, a decisão dos parlamentares de votarem a favor de manter o Coaf com Moro foi fruto de discussões internas em que essa posição, aos poucos, foi ganhando adesão.
“Se há alguém na Câmara que sempre cumpre a palavra esse alguém sou eu. Não há por que haver insatisfação dos outros partidos. Podemos funcionar em bloco em algumas votações, mas temos nossas diferenças. Se fôssemos uma coisa só, seríamos um partido só”, afirmou o deputado.