Terça-feira, 11 de março de 2025
Por Redação O Sul | 10 de março de 2025
Um drama policial sobre o despreparo ou uma comédia sobre assuntos profundos e importantes, Ladrões de drogas, nova produção da Apple TV+, consegue se adequar a qualquer uma das duas definições. A nova série protagonizada por Brian Tyree Henry e Wagner Moura e criada pelo indicado ao Oscar Peter Craig consegue misturar gêneros e trazer momentos de adrenalina, emoção, risadas e discussões sérias muito intensos em oito episódios que começam a ser lançados a partir de 14 de março.
O seriado acompanha Ray (Henry) e Manny (Moura), dois amigos de infância que cresceram no gueto da Filadélfia. Eles encontram uma forma fácil de ganhar dinheiro ao se vestirem de agentes da DEA, divisão antidrogas da polícia norte-americana, para roubar o dinheiro e as drogas de pequenas bocas de fumo. No entanto, uma dessas invasões dá completamente errado e os amigos se veem envolvidos em uma avalanche de problemas quase impossíveis de resolver.
A série varia entre momentos gráficos e graves, de muita tensão, ansiedade e adrenalina, e momentos cômicos e reais. Dessa forma, é um drama sobre polícia, corrupção e tráfico de drogas que, de forma despretensiosa, tira gargalhadas do espectador. “É preciso usar as ferramentas que o cinema dá para atrair o espectador para ver o que você propõe. Se ele sair daquilo pensando em algo, é um ganho”, afirma Wagner Moura ao Correio. “Ela atrai por uma coisa, mas te entrega algo a mais”, elogia.
Porém, o ator dá o crédito dessa qualidade da série a Peter Craig. O roteirista, que estreia em televisão com o seriado, diz que a intenção sempre foi fazer algo que tivesse um pouco de todos os sentimentos para ser mais real. “Eu quero que tudo o que eu faça seja um artefato muito verdadeiro e autêntico ao local e ao tempo em que está inserido”, pondera o showrunner. “A série tem camadas de absurdos, tem tanta coisa junta que chega um momento que só dá para rir de tudo aquilo. O humor vem dessas coisas muito reais no meio de situações completamente inacreditáveis”, explica o cineasta, que também dirige e produz a obra.
Ao saber dos elogios que Wagner fez ao texto, Craig disse que tudo ficou mais fácil por trabalhar com atores tão bons quanto o brasileiro. “Com um ator como o Wagner, a única coisa que você precisa fazer é deixá-lo solto. Ele é muito inteligente”, exalta. “Ele é tão estudioso e rápido que é possível ver o personagem mudando conforme os problemas que tem no caminho. Teve um editor que me chamou e disse: ‘Esse cara é um ator tão bom que conseguiu mudar o formato do próprio rosto'”, lembra o autor.
Wagner Moura sempre é muito dedicado aos papéis que interpreta, mas por Manny ele teve um carinho especial. “Eu gosto demais desse personagem. Acho que esse foi o personagem mais vulnerável que eu já fiz. Ele é um canal de emoção, todas as cenas dele são pura emoção. O bichinho sofre muito”, conta. Manny é um homem brasileiro que não tem mais contato com a família. Portanto, Ray é o mundo dele. Ele lida com vício em drogas e com problemas sérios de insegurança, sem contar com tudo em que se vê inserido após o erro na abordagem que fizeram. “Tenho muita dó desse personagem e me enternece muito o coração pensar em Manny”, comenta Wagner.
As entrelinhas da adrenalina
Uma das principais qualidades de Ladrões de drogas está no fato de a série levantar temas muito importantes enquanto traz sequências de ação e tensão muito potentes. Como se fossem joias escondidas, a série faz críticas sobre o pós-covid, a crise de vício em drogas nos Estados Unidos, a imigração, o abandono da população marginalizada. Além disso fala sobre família, lealdade e pertencimento.
“Eu queria que todos os temas da série ficassem com o público como um retrogosto. Algo que vem depois que você assiste”, conta Peter Craig. Ele fez a escolha de encapsular esses temas para que chegassem ao público após a digestão das cenas tensas. “É como uma pirâmide, em que a base é a sobrevivência e depois você vai subindo para encontrar a filosofia da série. Esses personagens estão no fundo da base. Na maior parte da série, eles estão lutando para viver um próximo dia, ou até uma próxima meia hora. Eu queria que todo mundo que assistisse estivesse com eles”, explana. “Porém, tudo em volta de cada uma dessas figuras vai ter um pequeno comentário sobre o mundo e o contexto em que estão inseridos”, completa.
Wagner Moura acredita que a premissa já é, a princípio, muito crítica. “Eu parto do pressuposto de que tudo é político. Uma série com um homem negro e um latino envolvidos em um caso de tráfico de drogas em que eles tentam desesperadamente sair daquela situação e não conseguem, aquilo vai ter alguma leitura social”, analisa o ator, que acredita no poder da arte de movimentar o espectador intelectualmente. “Tudo o que tem um coeficiente artístico é feito para fazer o público pensar em alguma coisa”, acrescenta.