Walter Salles, que recebeu o Oscar de Melhor Filme Internacional por “Ainda Estou Aqui”, dedicou a vitória a Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro respectivamente, a mulher que inspirou o filme e as duas que a interpretaram.
“Obrigado, primeiro, em nome do cinema brasileiro. Estou honrado por receber este prêmio, neste grupo tão extraordinário de cineastas”, declarou.
“Isso vai para uma mulher que, após uma perda sofrida durante um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Então este prêmio vai para ela. Seu nome é Eunice Paiva, então é dela. E vai para as duas mulheres extraordinárias que lhe deram vida. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Tom Bernard, Michael, vocês são os melhores. Muito obrigado por isso. É uma coisa extraordinária, extraordinária. Muito obrigado.”
A vitória de “Ainda Estou Aqui” representa um feito inédito para o Brasil, que conquista o seu primeiro Oscar após cinco indicações na categoria. O Brasil, inclusive, é o terceiro País com mais nomeações nesta categoria na América Latina.
A primeira veio em 1963 por “O Pagador de Promessas“. Dirigido por Anselmo Duarte e lançado em 1962, o filme mostra a tentativa de Zé do Burro (Leonardo Villar) de cumprir uma promessa de carregar uma cruz de madeira por um longo percurso até uma igreja.
“O Pagador de Promessas” ganhou a Palma de Ouro, prêmio principal do Festival de Cannes, e é até hoje o único título brasileiro a conseguir essa honraria. No Oscar, no entanto, perdeu para o francês “Les dimanches de Ville d’Avray”.
A segunda indicação do Brasil em Melhor Filme Internacional do Oscar ocorreu na edição de 1996 para “O Quatrilho“. Retratando imigrantes italianos em uma comunidade rural no Rio Grande do Sul em 1910, o filme é dirigido por Fábio Barreto e conta com nomes como Patrícia Pillar e Glória Pires no elenco. Nesta edição, a estatueta foi para o holandês “A Excêntrica Família de Antônia”.
Já a terceira ocorreu em 1998 com o longa “O Que É Isso, Companheiro?”. O filme compartilha semelhanças com “Ainda Estou Aqui”, como o momento histórico de se passar durante a Ditadura Militar brasileira e contar com Selton Mello e Fernanda Torres no elenco. Dirigido por Bruno Barreto, o longa perdeu o prêmio para o belga-holandês “Karakter”.
Até então, a última indicação do Brasil havia sido por “Central do Brasil“, também de Walter Salles. O filme lançado em 1998 concorreu na 71ª edição do Oscar, em 1999, mas perdeu para o italiano “A Vida É Bela”.
O longa é estrelado pela mãe de Torres, Fernanda Montenegro. Assim como a filha, Fernanda também foi indicada a Melhor Atriz no mesmo ano da indicação do filme a Melhor Filme Internacional. No entanto, ela perdeu para Gwyneth Paltrow, que esteve em “Shakespeare Apaixonado”.
Inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda Estou Aqui” se passa num contexto de ditadura militar no Brasil. Eunice Paiva (Torres), mulher do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), que desapareceu e foi morto durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), precisa se reestabelecer e cuidar da família após o sequestro do marido. Torres interpreta uma mulher forte, que diante de diversas situações tensas, intimidadoras ou tristes, como a perda do marido, buscou manter os eixos da família.